A maior premiação da academia de televisão, o Emmy, foi ao ar no último domingo. Num momento histórico em que questões de representatividade têm sido discutidas para muito além da representação branca que estamos acostumades a ver dentro e fora da tela, muito se especulava sobre a premiação. Havia grandes expectativas de que esse fosse o ano da diversidade na premiação. E, bem, apesar de termos ficado maravilhades com o vestido de Issa Rae e encantades com a merecidíssima premiação de Michaela Coel, não foi bem isso o que aconteceu…
O Emmy é branco?
Sim. Espero ter ajudado.
Bem, se a TV é majoritariamente dominada por homens brancos, por que seria diferente com a premiação? Mas isso não significa que esses homens sejam os únicos a poduzir conteúdos na indústria audiovisual e nem que esses conteúdos sejam os melhores que já assistimos, sabemos bem.
Em decorrência do assassinato de George Floyd, uma série de discussões se levantaram nas mais diversas esferas da sociedade. Uma delas foi a indústria cinematográfica, que, entre outras coisas, exigia diversidade fora das telas e medidas que realmente mostrassem compromisso com a vida de pessoas negras.
Além disso, sabemos que um único grupo contando todas as histórias que acharem que devem gera muitos problemas para todos os outros grupos. Só na preparação para escrever essa matéria, descobri uma nova forma de estereótipo de pessoas negras: o “magical negro (o negro mágico, em tradução livre)”.
E a verdade é que representações como essas vão continuar se repetindo até que a indústria esteja realmente disposta a mudar. Mas será que esse dia chega?
Por bem ou por mal, a mudança vem?
Seria muita ingenuidade a gente acreditar que a mudança viria só porque as pessoas que hoje dominam o mercado adquiriram consciência, né? A real é que a mudança chama o dinheiro.
Na edição de ontem, o Emmy registrou um aumento de 16% na audiência. Não dá pra não pensar que um dos motivos é a presença de mais pessoas de cor (e esse termo engloba raças diversas).
Só que também não dá pra ignorar que essa mudança veio muito mais nas pessoas convidadas do que nas premiadas. As redes sociais estão bombando com o vestido de Issa Rae e com a premiação de Michaela Coel como a primeira mulher negra a receber o prêmio como roteirista.
Mas a verdade é que a série “I May Destroy You”, que rendeu o prêmio a Coel, recebeu outras indicações e não venceu. E, em uma das indicações, perdeu para “O Gambito da Rainha”, que é justamente a série que fez o estereótipo da “negra mágica” com a única personagem negra na série (mas aparentemente as pessoas não acham que essa é uma grande questão porque em muitas plataformas, a série só recebeu elogios).
Então eu diria que a mudança vem porque é conveniente para os bolsos de quem se interessar, mas ela vem a passos muito demorados, muito mais demorados do que a nossa pressa é capaz de esperar inclusive.