No mês de outubro a criação do Teatro Experimental do negro completa 76 anos, com um legado de resistência, arte e educação para todos.
No Rio de Janeiro, há 76 anos, estava sendo inaugurado o Teatro Experimental do Negro (TEN). A inciativa partiu de um sonho idealizo pelo ator, ativista e escritor Abdias Nascimento. Nascido em 14 de março de 1914, na cidade de Franca, São Paulo. Abdias queria se ver na arte que tanto admirava. Primeiramente, foi a sua determinação que criou uma geração de atores pretos e pretas que estão até hoje representando o povo brasileiro. O TEN foi a primeira companhia desenvolvida para a inclusão dos afrodescendentes no país. Afinal, foi lá que nomes como Léa Garcia, Ruth de Souza e Milton Gonçalves ganharam a primeira oportunidade de mostrar para que vieram.
A história e legado de Léa Garcia
Antes de mais nada, Abdias nunca foi um conformista, sempre buscou e lutou por mais. Além disso, em 1930 se aliou a Frente Negra Brasileira. Podemos dizer que o seu despertar aconteceu na década de 1940 quando estava no Peru e lá assistiu ao espetáculo “O Imperador Jones”, de Eugene O’Neill. O personagem principal era interpretado por um ator branco com o rosto tingindo de preto, enfim o famoso blackface. A partir desse momento, Abdias se debruçou em um novo projeto.
Ter um teatro negro e mostrar a força de um povo que poderia ter protagonismo na própria história e nos palcos. Porém, em 1941 o ator foi detido na antiga penitenciara Carandiru por um crime de resistência que antecedia a sua viagem ao Peru, provavelmente movido por ligações políticas, já que Abdias era engajado nos movimentos sociais da época. No seu tempo de reclusão ele fundou o Teatro do Sentenciado, onde organizou um grupo de detentos para escrever e encenar os próprios textos. Antes de mais nada, todo o processo foi um aprendizado e um ensaio para a criação do Teatro Experimental do Negro.
![Ensaios do Teatro Experimental do Negro](https://todosnegrosdomundo.com.br/wp-content/uploads/2020/10/f68bc1606a499c66a1eabd66e99d6817_XL-882x1024.jpg)
Do até começo ao legado do Teatro Experimental do Negro
Tudo começou no Rio de Janeiro, em 13 de outubro de 1944. Abdias Nascimento inaugurou o TEN, que oferecia o curso de interpretação teatral e aulas de alfabetização. Até os dias atuais o Brasil tem 11,3 milhões de analfabetos, entre eles a maioria são negros. O que Nascimento fez, em 1944, foi unir arte e educação para dar algo significativo para pretos e pretas. A peça de estreia foi “O Imperador Jones”, não poderia ser outra. Afinal, foi a falta de representatividade do espetáculo que inspirou o ator a fundar o TEN.
Mais duas peças de O’Neill foram reproduzidas pelo Teatro Experimental do Negro, “Todos os Filhos de Deus Têm Assas” e “O Moleque Sonhador”. Em 1946, a companhia comemorou os dois anos de fundação estrelando um trecho do espetáculo “Otelo”, de William Shakespeare, com a participação da atriz Cacilda Becker. O teatro passou a focar em produções brasileiras, além disso falava de temas políticos sociais. O “Filho Prodígio” de Lúcio Cardoso é um exemplo, a primeira peça escrita especialmente para o TEN. Afinal, abordava a questão do negro em forma de parábola.
“Aruanda”, “Filhos de Santo” e “Sortilégio” são as peças mais conhecidas do teatro, além disso foram a base para a escrita da revista Rapsódia Negra. O Teatro Experimental do Negro fez o seu papel, educando e formando artistas conscientes. Entretanto, em 1968 a perseguição politica se agrava, o auge da ditadura militar começa a apertar o círculo e suspender as atividades artísticas. Abdias se vê forçado a sair do país. Em exílio atua como professor universitário, escritor e pintor. Ao voltar para o Brasil se dedicou a carreira politica, eleito deputado pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT). Seu legado vai além dos livros publicados, das palestras e do tempo no serviço público. Abdias deu voz, poder e arte ao um povo. O TEN formou os artistas que vemos hoje na televisão, abriu portas que nunca mais serão fechadas.