Hoje é dia de celebrar a vida de uma grande mulher negra. Angela Yvonne Davis completa 73 anos de muita força, luta e resistência. Nascida e criada no Alabama, considerado o estado mais racista do sul dos Estados Unidos, Angela tem uma história de enfrentamento ao racismo que começa cedo. Sua mãe era professora e entrou para a politica durante o seu crescimento, algo que fez com ela tivesse contato com ativistas e pensadores logo na infância. Leitora ávida, aos 14 anos Angela ganha uma bolsa de intercâmbio para estudar em Nova York, onde aprendeu teorias comunistas e começou a formar em sua cabeça as bases para contribuir com o debate de classe e raça.
Aos 17 anos, a jovem entra para Brandeis University, em Massachussets, onde ela foi uma dos únicos três estudantes negros na sua turma de calouros, algo que a afetou psicologicamente. Aqui é o ponto de virada para seus estudos em filosofia e, um ano depois, muda-se para a Europa onde passa a estudar na Universidade de Frankfurt. Quando retorna aos Estados Unidos em 1969, Angela se torna integrante do Partido dos Panteras Negras. Neste momento, o partido lutava pela liberação de três militantes: George Jackson, Fleeta Drumgo e John Clutchette, conhecidos como “Irmãos Soledad” por terem sido presos em Monterey, na Prisão Soledad.
Em 1970, Angela foi acusada de conspiração, sequestro e homicido após uma arma registrada em seu nome ser usada para disparar contra policiais no julgamento de James McClain, amigo dos Irmãos Soledad. Um dos disparos acabou matando o juiz Harold Haley e isso resultou no decreto de prisão da própria Angela, que ficou foragida por dois meses antes antes de ser presa em Nova York. A perseguição policial em cima de Angela foi massiva, e ela chegou a ser listada como uma dos 10 fugitivos mais procurados pelo FBI e a mais perigosa da América.
A sua condenação abriu prerrogativa para a discussão do racismo nos Estados Unidos. Uma série de manifestações contra a sua prisão foram feitas, todas elas ficaram eternizadas no documentário Libertem Angela Davis, lançado em 2014. Foi o momento que o movimento negro encontrou para pautar a negligencia dos governos com as vidas de afro-americanos. O julgamento de Angela durou 18 meses, tempo em que esteve presa e que a levou a escrever o livro “Angela Davis – Autobiografia de uma revolucionária”.
Hoje, a trajetória de Angela continua militante, onde ela se coloca ao lado do movimento feminista negro, LGBT e discute a política de cárcere. Em sua última aparição recente, Angela fez um discurso forte na Marcha das Mulheres em Washington para mais de 750 mil mulheres.
“Esta é uma Marcha das Mulheres e ela representa a promessa de um feminismo contra o pernicioso poder da violência do Estado. E um feminismo inclusivo e interseccional que convoca todos nós à resistência contra o racismo, a islamofobia, o anti-semitismo, a misoginia e a exploração capitalista.Nos próximos meses e anos nós estamos convocadas a intensificar nossas demandas por justiça social e nos tornarmos mais militantes em nossa defesa das populações vulneráveis. Aqueles que ainda defendem a supremacia masculina branca e hétero-patriarcal devem ter cuidado!”
Angela Davis foi mais do que um cabelo armado e punhos a riste. Sua contribuição histórica e filosofia para o entendimento das relações raciais contemporâneas jamais serão esquecidos. Seu legado e sua história são um patrimônio ao movimento negro, e nós do TNM lhe prestamos essa singela homenagem. Parabéns, Angela! <3