Os negros ainda não emprestavam sua voz ao rádio. Bem como não faziam parte de muitos espaços. Mas o samba pediu passagem. Moisés da Rocha abriu alas. O radialista fez parte da primeira geração de locutores negros do país. Foi o brado de Moisés que abriu, a partir de 1978, a programação de “O Samba Pede Passagem”.
Nascido em Ourinhos, interior de São Paulo, o produtor, pesquisador e locutor deu à locução não apenas sua voz, mas também sua cara. Foi assim que o homem negro que passou pelas rádios Cometa, Jovem Pan, Gazeta, Cultura, Carioca, passou a abordar a cultura periférica.
O lugar de fala ocupado por Moisés trouxe esperança à população negra que, até então, tinha seus meios de comunicação censurados pelo regime militar. A voz do radialista narrou não apenas o início de um programa, foi ela também a protagonista de mudanças para quem antes era excluído.
“Tinha rádio que não deixava nem artista negro entrar”, Moisés disse uma vez. É por isso que ele abriu alas não apenas ao samba, mas também às pessoas cujo racismo impossibilitava o alcance dos espaços. Talvez, por isso, “O Samba Pede Passagem” tenha alcançado quarenta décadas. E, sem dúvidas, é por isso que, hoje, no Dia Mundial do Rádio, é Moisés da Rocha o protagonista da nossa história.