Quem acompanha o trabalho de Ingrid Silva sabe que sua presença vai muito além de sua atuação no mundo do balé, que já é um marco grandioso para si própria e para abrir caminhos para outras meninas e mulheres que compartilham do mesmo sonho.
Bailarina e ativista, Ingrid Silva já contou em diversos momentos de seu envolvimento com causas por direitos e acessos para pessoas negras, inclusive para que não tenham que passar pelo que ela passou – ser pioneira numa área simplesmente porque a falta de acesso fez com que Ingrid não tivesse em quem se inspirar.
Para além do esporte, a bailarina tem expandido suas áreas de atuações: já foi capa de revista, escreveu seu livro de memórias, atuou em documentários para a Netflix e, mais recentemente, numa conversa gravada pelo podcast “Tô na Trace”, ela conversou com Taís Araújo e declarou que pensa em ter seus próprios negócios também. Para isso, é preciso estudo e planejamento. E é aí que entra o programa de negócios “Crossover Into Business”, da Universidade de Harvard.
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Ingrid Silva em Harvard
O programa “Crossover Into Business” foi lançado em 2017 em uma parceria com a National Basketball Association (NBA) e envolveu dez jogadores ativos da NBA, bem como vinte alunos do MBA do segundo ano e um coordenador estudantil.
O objetivo da formação é o de conectar atletas profissionais a mentores de estudantes de MBA através de uma formação que visa preparar esses esportistas para a atuação em negócios durante e após suas carreiras.
Essa é uma conversa que tem ganhado um pouco mais de visibilidade nos últimos tempos em diferentes formatos e é importante que aconteça porque precisamos falar sobre a instabilidade da carreira de atletas, que são funcionários de uma empresa assim como outros trabalhadores.
Por vezes, pode parecer uma carreira glamurosa se pensarmos, por exemplo, em grandes jogadores de futebol ou de futebol americano. Mas uma pesquisa de 2002 divulgada pela Folha indicava que a maioria dos jogadores ganhava até R$360,00 por mês. Outra resultado mais recente, divulgado pela Terra e pelo Estadão, mostra que a maioria dos atletas recebe menos de um salário mínimo. Jogadores que recebem mais de R$5.000,00 somam apenas 12% do montante do país.
As matérias não fazem distinção de gênero, mas sabemos que há também uma disparidade entre os esportes nas modalidades femininas e masculinas. Em entrevista para o Terra, Marco Aurélio Cunha, ex-diretor da CBF, lembra também do tempo útil de vida de um atleta, que vai se doar até por volta dos 35 anos: “se ganhar de 2 a 5 salários mínimos, vai ser aquilo ali mesmo. E muitos não pensam no pós-carreira. Os ricos não se preparam, imagine os pobres. O futebol de grandes salários é uma ilusão”, completou.
Essa conversa também esteve presente no episódio do podcast Mano a Mano em que Mano Brown entrevista ex-jogadores do Santos e, nas produções audiovisuais, a série “Reunião de Família”, disponível na Netflix, fala sobre a vida de um consagrado jogador de futebol americano que decide se aposentar e volta com sua companheira e os 4 filhos para morar na casa da mãe e tendo que lidar com um novo orçamento familiar, já que o salário de estrela não chegaria mais todo os meses.
Na conversa com Taís Araújo citada no início dessa matéria, Ingrid Silva comentou que, quando compartilhou que finalmente tinha uma sapatilha de balé da cor de sua pele, algumas pessoas menosprezaram o acontecimento e disseram que não de grande interesse das pessoas ter uma sapatilha no seu tom de pele.
Ingrid rebateu dizendo que estava recebendo mensagens desde meninas de Nova Iorque, onde reside, até do Brasil e que vinha pensando em tornar essa realidade acessível a mais meninas e abrir seu próprio negócio para tornar esse e outros sonhos realidade.
Atualmente, Ingrid já é a fundadora da plataforma EmpowHer NY, criada pensando no diálogo de viver de maneira autêntica de acordo com a sua verdade, e co-fundadora da organização “Blacks In Ballet”, que dá destaque a bailarines negres ao redor do mundo.
Hoje, Ingrid já usou suas redes sociais para compartilhar sua satisfação em ter sido aprovada no programa, ao lado de outros diversos atletas de ligas como a NBA, a MLS, a NFL, a NWSL, a WNB e outras atletas do balé porque o programa é muito concorrido e atualmente contempla cerca de vinte atletas e cinquentas alunos de MBA em duas edições anuais.