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terça-feira, 03 outubro 2023
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Djamila Ribeiro: “De quais homens nós estamos falando?”

Confira momentos selecionados da filósofa, feminista negra, escritora e acadêmica Djamila Ribeiro no programa Roda Viva, da TV Cultura.

A filósofa, professora universitária, feminista negra, escritora e acadêmica Djamila Ribeiro esteve no Roda Viva, da TV Cultura, na última segunda-feira. A bancada? A arquiteta, urbanista e escritora Joice Berth. O jornalista, ativista, influenciador digital e head de marketing da Trace Brasil Ad Junior. Entre outros. Os temas discutidos foram diversos. Mas Djamila começou a entrevista falando sobre a construção que nós, enquanto sudestinos, temos do Norte e do Nordeste. E deu uma mensagem de solidariedade à população do Amapá, que vem sofrendo com uma crise de energia e água há dias.

Djamila também falou sobre a importância de reconhecer os que vieram antes de nós. Nesse sentido, cita importantes referências para o movimento negro, como Lélia Gonzales, Audre Lorde, Sueli Carneiro, Ruth Gilmore e Conceição Evaristo.

A apresentadora Vera Magalhães aponta que Djamila não é unanimidade no movimento negro. Um dos motivos é sua defesa sobre como ser antirracista. Djamila defende que ser antirracista é um processo que envolve empatia, mas reforça que “a empatia é uma construção intelectual”.

Quem tem orgulho de Djamila Ribeiro?

Coleção Feminismos Plurais

Djamila fala sobre sua trajetória de movimentos sociais. E também diz que parte de sua inspiração vem de estudar o pensamento de homens brancos europeus por anos, durante sua graduação e mestrado em Filosofia. E, também por estar envolvida na academia, em especial na área da Filosofia. Esta não é uma área do conhecimento de todos, em especial por falta de oportunidade. Quem lembra da discussão sobre a (falta de) importância da Filosofia nas escolas?

Ela conta que uma das premissas da coleção era que ela fosse acessível na linguagem e no preço. Além disso, a coleção foi lançada em parceria com a editora. Isso significa que eles dividem custos e lucros e não estão submetidos à editora, como geralmente acontece no Brasil.

O livro Pequeno Manual Antirracista é o mais bem sucedido da coleção. Em parte porque teve muitas unidades vendidas em decorrência da morte de George Floyd nos Estados Unidos. Mas Djamila também reforça que o livro atingiu o primeiro lugar durante esta ocorrência, mas já figurava entre os mais vendidos, ocupando o sétimo ou oitavo lugar desde seu lançamento.

Ela atribui inclusive parte do sucesso do livro ao fato de que muitos lançamentos foram feitos fora de livrarias. Além disso, ela e sua equipe doaram, ao todo, mais de quinze mil unidades do livro.

Coleção Feminismos Plurais (8) - polenlivros
A coleção Feminismos Plurais, de Djamila Ribeiro. (Foto: Reprodução)

Djamila Ribeiro e a morte do pensamento crítico

Djamila defende a importância do debate. Mas no sentido de não esvaziar as discussões porque isso significa a morte do pensamento crítico. Ela explica que é por isso que não está em algumas redes sociais, como o Twitter. E também que estamos em uma bolha de redes sociais. Isso muitas vezes enfraquece a complexidade das questões que precisamos discutir enquanto sociedade.

Tratar diferenças como forma de aniquilação e tratar alguns autores como intocáveis, segundo ela, representam o anti-intelectualismo.

Djamila, e a periferia?

AD Junior aponta a importância do mês de Consciência Negra e questiona como fazer com que seu discurso e de outras personalidades negras cheguem em lugares de pouco acesso, como o interior do Norte e Nordeste e na periferia.

Djamia reforça que este também é um lugar de pessoas brancas e que devemos questionar nossos limites enquanto indivíduos. Quem nunca foi questionado sobre o que está fazendo pela comunidade? Se o seu feminismo chega na sua mãe?

Djamila aponta que esses discursos muitas vezes criam a ideia da periferia como uma entidade. Como se não fosse um lugar de movimentos ativos. Com pessoas pensando, trabalhando e produzindo também. Limita a periferia à uma perspectiva da escassez.

Feminismo hegemônico x feminismo negro

Djamila fala sobre a importância de reconhecermos as especificidades das mulheres e, portanto, do feminismo no Brasil. É claro que temos importantes referências a serem ouvidas nos Estados Unidos, mas o debate de lá abrange as questões de mulheres latinas, mulheres indigenas, mulheres negras no contexto racial do Brasil?

Ela também aponta que, assim como Sueli Carneiro defende a importância de pensarmos na multiplicidade de mulheres, os homens também são plurais. E os homens negros, por exemplo, estão abaixo de mulheres brancas na pirâmide social. Então de que homens estamos falando?

As eleições nos Estados Unidos

Djamila também falou sobre as eleições nos Estados Unidos. Ela diz não acreditar em uma ingenuidade da população negra que vê em Biden alguém que vá defender suas pautas. Tratava-se de tirar o Trump do poder.

Eleições no Brasil

Djamila falou sobre a importância da representatividade de mulheres em posições institucionais. Mas isso não é tudo. É importante avaliar se estas mulheres defendem as pautas que nós, enquanto mulheres negras ou população negra, queremos defender.

Ela também falou sobre a importância do financiamento do fundo partidário a candidatos negros. Que a decisão do TSE da paridade racial é fruto da luta do movimento negro, já que muitas vezes mulheres brancas, por exemplo, recebem centenas de milhares de reais para financiar suas campanhas e mulheres negras, não.

Roda Viva on Twitter: ""É interessante que a branquitude não pensa que  branquitude também é uma identidade. Masculinidade também é uma identidade.  'Identitários' são sempre os outros", diz Djamila Ribeiro. #RodaViva…  https://t.co/wlCmzCp72U"
Djamila Ribeiro em sua participação no Roda Viva. (Foto: Reprodução)

Posicionamento político

Djamila é questionada sobre seu posicionamento liberal. Ela diz se entender como quilombola. E que seu objetivo é o de tirar de onde tem para dar para quem não tem.

Ela diz que sua mãe limpou privadas, sua vó limpou privadas e que sua mãe a disse que ela não faria isso. Não porque há algo de vergonhoso nisso. Mas porque o Brasil nos deve.

Super mulher?

Djamila diz que naturalizar uma pretensa força da mulher negra é negar o lugar de opressão a que estamos submetidas. Mas nós somos fortes porque o Estado é omisso. E que, de fato, ou somos discriminadas ou deusas, atendentes de demandas de outras pessoas. “E quando é que eu sou humana?”

Nesse momento, Djamila cita Grada Kilomba, que quer ter “a liberdade humana de ser eu”. Ao mesmo tempo, Djamila diz que não quer ser unanimidade. E conclui com Toni Morrison, dizendo “Sim, eu sou [segura]. (…) Eu me sinto muito confortável com as minhas qualidades e com os meus defeitos”. Que são próprios dos humanos e as pessoas querem negar.

E mais…

Djamila fala sobre muitos outros assuntos, como por exemplo: a importância de considerarmos o contexto racial brasileiro, o homem branco também como sujeito identitário, o racismo presente na linguagem, a visão da população negra como uso político, não como um povo capaz de intelectualizar e ocupar determinados cargos, sobre a não universalização da experiência negra. Ao ser questionada sobre a carreira política, Djamila diz que não é a hora. Neste momento, ela está concentrada em publicar mais livros. Ela aponta inclusive que tem lido muitas mulheres indianas. Sua entrevista termina com a frase “A felicidade é uma obrigação ancestral.” Por fim, você pode conferir a entrevista na íntegra aqui.

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