Por Semayat Oliveira
No dia 3 de outubro o escritor e historiador Allan da Rosa lançou a segunda obra infantojuvenil e nono livro de sua carreira. Publicada pela Editora Nós, ‘Zumbi assombra quem?’ traz estalos, dúvidas e descobertas de Candê, um menino curioso sobre a africanidade que leva em seus poros, cabelos e passos. Unindo questões raciais e de classes, mergulhando em ancestralidade e infância, o título chega ao público nas vésperas do Dia das Crianças e próximo ao mês da Consciência Negra.
Zumbi é um tipo de monstro fedorento caindo aos pedaços ou um guerreiro pensante que mora nos vãos da terra? A pergunta que martela a cabeça do garoto direciona diálogos com o seu Tio Prabin, com a sua Mãe Manta e, em sonhos e lembranças, com a sua Vó Cota Irene, todos moradores de um bairro periférico. O enredo flui com personagens inusitados e cenários que vão de quintais a botecos. Pelos seus olhos de menino, surgem os mistérios, alegrias e medos de Zumbi ao lidar com questões que desafiam seu povo há séculos.
O livro abre horizontes sobre a história do Brasil, a paternidade, o cotidiano de uma família negra e periférica e o impacto do racismo no dia a dia, como o genocídio da sua juventude e a violência policial. Entre os vários elementos que inspiraram o processo criativo do autor, ser pai e ter desenvolvido o hábito de ler com e para seu filho, Daruê, hoje com 10 anos, foi uma das principais influências. Segundo o escritor, na concepção da obra, pensou nas mãos, íris e ouvidos das pessoas que terão contato com o livro. “Eu tenho o sonho de que as pessoas mais velhas leiam ‘Zumbi assombra quem?’ em voz alta e com a sua molecada e seus coroas, porque não há intimidade maior do que ler junto”, disse Da Rosa.
Conhecendo as dificuldades e especificidades que uma criança negra enfrenta no Brasil, país com índices de violências que atingem sobretudo a população preta, o escritor buscou recursos para compor outras referências e imaginários na educação de seu filho. “Precisei, tanto por meio de historinhas, quanto de estudo da história, apresentar positividade a ele. Na minha busca, eu não queria apresentar só heróis infalíveis e idealizados, mas também as contradições da nossa história. Isso aparece nos diálogos do Tio Prabin com o menino Candê”, conta o escritor.
As imagens, cores e traços que dão vida aos dias e noites de aventuras são de Edson Ikê, ilustrador e designer com uma produção artística marcada por sua intensa pesquisa, que dialoga com as expressões da diversidade, da educação emancipadora e da beleza da simplicidade. Ikê faz ilustrações para livros didáticos (impresso e digitais), jornais, revistas, cartazes. A xilogravura é a base estética de suas produções. Também ilustrou os livros “No balanço da Maré” e “Sofi a pipa bailarina”.
Segundo Simone Paulino, diretora editorial da Nós, o livro tem uma originalidade literária e uma atualidade imensa, pois aborda a experiência de ser uma criança negra e periférica, a partir de uma narrativa protagonista e altamente poética. “É preciso, cada vez mais, incluir essa discussão na literatura infantojuvenil, mas de forma artística e a partir de vozes legitimas. A obra ‘Zumbi assombra quem?’ tem essas características, pelo conteúdo e pelo histórico do autor”, afirmou.
Sobre Allan da Rosa
Allan da Rosa é contista, poeta e dramaturgo. Capoeira angoleiro, é integrante do movimento de Literatura Periférica de SP desde o princípio. É historiador, mestre e doutorando em Cultura e Educação pela Universidade de São Paulo. Ali foi também estudante e professor do cursinho do Núcleo de Consciência Negra na USP. Sua dissertação intitulada “Corpo, Imaginário e Caneta – EJA e Matriz Afro-Brasileira” foi tecida com práticas e reflexões comunitárias em escolas periféricas da cidade e em cursos que promovia sobre formas, politicas e sentidos das culturas negras e da diáspora africana. Aprofundando elementos fundamentais da presença negra no Brasil como o jogo, a luta, o território, o espaço, a estética, as noções de tempo em espiral, etc, a série de cursos realizados durante anos em conjunto com movimentos sociais e artísticos originou o conceito de “Pedagoginga”. É autor de Reza de Mãe (2016), “Pedagoginga, Autonomia e Mocambagem (2014), “Da Cabula (Prêmio Nacional de Dramaturgia Negra Ruth de Souza (2007), entre outros. Já se apresentou em recitais, palestras e coordenou oficinas em todas as regiões do Brasil e em Cuba, Moçambique, EUA, México, Bolívia, Colômbia e Argentina.
Sobre a Nós:
Criação da jornalista e escritora Simone Paulino, nós somos uma jovem editora brasileira que realiza projetos literários inovadores, nos quais se destacam a qualidade editorial e gráfica, e principalmente a missão de interferir na formação cultural dos leitores e na sociedade à qual pertencemos, por meio da articulação transparente, democrática e inclusiva de parceiros que também compartilham deste ideal.
Sobre Edson Ikê
Passou por editoras, estúdios, agências, e hoje está a frente de seu estúdio Ensaio Gráfico. Atualmente, faz ilustrações para livros didáticos (impresso e digitais), jornais, revistas, cartazes. A xilogravura é a base estética de suas produções. Também ilustrou os livros “No balanço da Maré” e “Sofi a pipa bailarina”. A galeria de arte Smith & Lens (EUA/Mississipi) expôs suas gravuras em 2016. Foi indicado para os prêmios Esso e Abril Jornalismo pela matéria que ilustrou “África e Brasil: unidos pela história e cultura” pela revista Nova Escola pela editora Abril.”