Lançado na última terça-feira (15), Passarin é o novo trabalho de Sabrina Tonett, artisticamente NaBrisa, uma rapper branca que teve como influências Legião Urbana, Bob Marley, Racionais MCs, Sabotage, segundo seu perfil oficial no facebook. A artista que ficou bastante conhecida após parcerias com o 1Kilo teve dessa vez uma música lançada pela Pineapple Supply e Brainstorm Estúdio, famosa pelas polêmicas sobre o pagamento dos artistas com quem fecham clipes e produções.
O novo trabalho de NaBrisa faz parte de #Perfil, projeto semanal onde mcs convidados escolhem seu beat de preferência deixado por beatmakers em uma caixa. Muitos artistas alcançaram ainda mais visibilidade por meio da iniciativa, inclusive Djonga, que fez o #Perfil22 – Olho de Tigre, com um posicionamento bastante contundente sobre racismo. Infelizmente, NaBrisa não pode ser elogiada pela mesma façanha.
Muito pelo contrário. A rapper trouxe uma composição sobre liberdade e por isso a assimilação ao passarinho. Apesar da comparação metafórica, NaBrisa teve a coragem de inserir em sua música pontos que sugerem acreditar no racismo reverso, quando diz: “Eu não vou ficar calada pra ouvir seu preconceito, o papo reto já foi dado, agora mereço respeito”. Não para por aí. Pouco antes desses versos, a artista canta outros que comprovam que ela nada sabe sobre o movimento Hip Hop e menos ainda sobre os reflexos do racismo 130 anos após a abolição da escravidão.
“Inferno é pra branco e pra preto
Na cadeia tem branca e preta
Na favela tem branco e preto
Rap é pra branco e pra preto
Todo preço já foi pago, eu não preciso dá um jeito”
O preço não foi pago, Sabrina Tonett. Pelo contrário, agora você nos deve mais ainda. Rap é de preto e nele cabe branco que respeita e honra a história do Hip Hop. Acreditar em racismo reverso no Rap jamais será aceito, então enquanto esse for o posicionamento não tá na hora de te respeitar ou respeitar seu trabalho. Sobre favela e cadeia, estamos cansados de trazer dados. E as estatísticas só comprovam o que pretos já sabem: somos maioria na cadeia, na favela, no desemprego. NaBrisa alcançou visibilidade que mulheres negras na cena há anos ainda não tiveram e não foi pela qualidade de suas composições.
O recado não vai só pra dona da voz em Passarin, vai pro canal que veiculou essa mensagem irresponsável. O mesmo que, inclusive, trouxe grandes artistas combatendo o racismo em seus versos. Quem divulga mensagem racista, também nos deve – e muito. Pineapple Supply e Brainstorm Estúdio, vocês são coniventes com o preconceito racial e nada sabem sobre origem e honra do Hip Hop. Vocês não merecem divulgar as pedradas que já divulgaram, se agora abrem espaço pra mais uma artista que se isenta da responsabilidade imposta na cor da sua pele.
Compartilhar aqui o vídeo da produção traz ainda mais visibilidade para NaBrisa, mas ao mesmo tempo mobiliza quem acredita não só no Rap, mas no movimento Hip Hop, a escolher bem quem ouvir no fone. É ainda um brado para que artistas não sejam coniventes com a Pineapple e não deem a eles a honra de divulgar composições que lutam contra o racismo. Por fim, se há algum “passarin” voando nesse céu e procurando por liberdade, sem dúvidas, ele é um urubu rei – também conhecido como branco.