A atriz Léa Garcia, de 87 anos, tem muita história para contar e ainda continua atuando e fazendo da sua vida uma forma de arte
Léa Garcia é uma das principais atrizes negras do Brasil. Aos de 87 anos inspira arte, cultura e segue atuando. Antes de mais nada, ela é apaixonada por poesia: seus escritores favoritos eram Langston Hughes e Cruz e Sousa, também conhecido como o “Dante Negro”. Léa nasceu na Praça Mauá, Rio de Janeiro, em 11 de março de 1933. Sua mãe morreu quando ela tinha 11 anos de idade e, a partir daí, passou a morar com a avó, que era empregada na casa de uma família tradicional carioca. Aos 16 anos queria ser escritora, porém seus planos mudaram quando ela conheceu o Teatro Experimental do Negro (TEN), fundado em 1944 pelo intelectual Abdias Nascimento. Ao entrar para a companhia, a atriz se encantou com a força do teatro.
Quem foram os pioneiros no teatro negro brasileiro?
Contrariando as expectativas de seu pai, que sonhava com um futuro estável para a filha na área de contabilidade, Léa decidiu que não poderia largar o teatro. Afinal foi ali que encontrou sua vocação e se apaixonou, não apenas pela atuação. Em 1951 ela se casou com Abdias Nascimento e ambos permaneceram casados até 1958. No ano de 1952 ela estreou na revista Rapsódia Negra, apresentada nos palcos da Boate Acapulco. Mesmo depois da separação com Abdias, ela seguiu nas produções do Teatro Experimental do Negro com “O Imperador Jones” (1953), “O Filho Pródigo” (1953), “A Alma que Volta Para Casa” (1956), e “Sortilégio” (1957).
Léa Garcia atuou na peça Orfeu da Conceição, em 1956, escrita por Vinícius de Moraes. A peça transpunha o mito grego de Orfeu e Eurídice para os morros do Rio de Janeiro. Em 1959 estreou no cinema em Orfeu do Carnaval, também chamado Orfeu Negro, uma produção francesa baseada na peça Orfeu da Conceição. O filme fez um grande sucesso.
Carreira na televisão
Na década de 1970, Léa faz sua estreia na televisão com a novela “Assim na Terra Como no Céu”, onde interpretava a empregada de Jardel Filho. Em 1971, participou da novela de Janet Clair “O Homem que Deve Morrer”, que causou polêmica por mostrar um casal interracial vivo pela atriz e pelo ator Paulo Araújo. Conquistou um grande reconhecimento quando deu vida a vilã Rosa em A Escrava Isaura, em 1976. Depois de um tempo na rede Globo, Léa seguiu carreira na Record e participou de três tramas na emissora, antes de regressar para a Globo.
Em 2016 Léa Garcia fez participações nas novelas Êta Mundo Bom! (2016) e Sol Nascente (2016), e no ano seguinte atuou na série Mister Brown (2017). Seus últimos trabalhos foram nas séries Assédio (2018), Carcereiros (2019) e agora na série Arcanjo Renegado, onde interpreta Dona Laura, proprietária da pensão em Miracema do Norte, cidade fictícia.
Além da atuação
Além disso, Léa Garcia também foi conselheira do Conselho de Cultura Do Estado do Rio de Janeiro, entre 1999 e 2001. Em 2010 foi eleita como diretora artística do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Direções (SATED). A sua paixão pelo cinema vai além da atuação, pois ela é autora de dois filmes: “Aconteceu No Rio de Janeiro” é uma adaptação cinematográfica de quatro contos de ficção de autores brasileiros e “Dublê de Ogum” é classificado como média-metragem, baseado no conto homônimo de Cidinha da Silva.
Enfim, a genialidade de Léa ultrapassa gerações e barreiras – uma mulher preta dona de si que conquistou o seu espaço. Léa resiste e ainda inspira milhares de outras mulheres, usa da arte como ferramenta de educação e força. A atriz veio de uma época mais difícil, mais restrita e mesmo assim se consagrou. Das sete premiações que foi indicada ao longo dos anos, Léa venceu seis, todas na categoria de Melhor Atriz.