Desde a semana passada, com o resultado do Sisu, minha timeline mostra a conquista de amigos e conhecidos na tão sonhada vaga da universidade pública e de qualidade. Desde que entrei na Unesp, em 2005, compreendi que mesmo sucateada, a universidade pública oferece uma formação mais ampla porque obrigatoriamente desenvolve não apenas o ensino, mas também pesquisa e extensão. Dediquei-me à pesquisa desde o primeiro ano da graduação. Todos os professores eram doutores ou pós-doutores. E o mais importante, pelo menos pra mim, a universidade oferecia programas de assistência estudantil como moradia gratuita e bolsa para ajuda de custos, ou seja, eu recebia um singelo salário para estudar. Parece um sonho não é? Mas existe.
Comecei a entender essas diferenças entre as universidades em 2003, quando ainda no ensino médio eu cursei o Educafro, núcleo Praia Grande. Aulas de cidadania me ajudaram a compreender que sim, eu sou negra, e a decidir que o curso de Ciências Sociais era mesmo “a minha cara”. Em 2016, morando em São Paulo, resolvi dedicar parte de meu tempo de doutoranda para lecionar no Uneafro, núcleo Jabaquara. E assim, o mundo vai girando e nós da periferia que sonhamos com um ensino de qualidade vamos conseguindo habitar as fissuras do sistema.
Nunca fui do tipo que acha que todos devem ir para as universidades. Mas luto sim, para que tenhamos o direito de escolha. Quando eu morava no Tude Bastos, na rua sem asfalto e saneamento, a universidade parecia um sonho muito distante. Depois descobri que é uma estratégia do sistema fazer-nos pensar que aquilo não é pra pessoas como nós. Depois no mestrado a mesma coisa. E sobreviver lá dentro? Com todas as opressões possíveis e imagináveis. Mas eles não podem nos impedir de estar lá. Por isso, se você quer a universidade, pública ou não, busque-a. Encontre as brechas do sistema e crie uma estratégia para ultrapassar esse grande muro falacioso da meritocracia.
Estão abertas as inscrições em cursinhos comunitários como Educafro e Uneafro. Se essa é sua vontade, realize com todo afinco que conseguir ter. Ano que vem, espero vê-lo na minha timeline como mais um preto e pobre a ingressar na universidade pública.
Serviço
Educafro – Pré inscrições pelo site
Uneafro – Pré inscrições pelo site
Aqui também tem um vídeo lindo que o Uneafro fez para inspirar os próximos alunos!