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terça-feira, 03 outubro 2023
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Estreia do BBB22: Letramento racial e outras reflexões

Chegou o momento! A estreia do BBB22 já conseguiu movimentar as discussões na internet, porém é sempre possível aprofundar um pouco mais

A segunda-feira (17) teve o seu marco com a estreia do BBB22. Aquele clima de animação, companheirismo e alegria não durou tanto, já que os participantes engataram em algumas conversas com temas mais densos e difíceis, o que foi interessante para o público conhecer mais um pouco sobre a opinião de cada um. Mas, como já comentamos, um jogo como este é imprevisível, pois depende da postura de cada pessoa.

Neste primeiro momento, os comentaristas de plantão do Twitter já têm suas teorias e o público parece ter abraçado alguns participantes, como por exemplo o pipoca Vyni, que continua esbanjando carisma. Mas a noite não foi apenas de risos e graças, algumas falas problemáticas estão repercutindo com muita força.

O que esperar do BBB 22?

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Naiara Azevedo com certeza foi um dos tópicos mais falado nas redes. Muitos já estavam de pé atrás com a cantora, bolsonarista declarada. Porém o que surpreendeu foi quando ela afirmou que “não vê cores”. Aquele velho e bom papo da filosofia “somos todos iguais”.

Muitas pessoas brancas e até alguns pretos também acreditam nessa história de que não existe raça. É basicamente um aviso para o movimento parar de falar de racismo que ele vai magicamente desaparecer. Alguns descobrem com o tempo que isso não passa de uma fantasia do imaginário branco, outros se beneficiam com tal pensamento e assim os privilégios de uma raça nunca são contestados.

Na mesma roda de conversa, a participante Natália Deodato fez uma afirmação inusitada sobre a escravidão. Em sua opinião, o sistema escravocata utilizou da força de trabalho preta por ser um grupo eficiente e forte.

A frase em si causou um grande impacto e algumas pessoas pretas rebateram o pensamento de Natália. Logo nessa estreia do BBB22, percebemos a dificuldade de dialogar sobre raças de maneira consciente.

Não estamos aqui para tacar pedras em nenhuma das duas, apenas para refletir sobre como a noção racial no Brasil, seja para brancos ou pretos, é distorcida. Claro que isso é apenas mais um fruto do racismo estrutural, mas para discutir inteiramente essas duas opiniões, podemos fazer uma conexão com o conceito de letramento racial.

A sombra do privilégio branco

Mas o que é o letramento racial?

O conceito de letramento racial da antropóloga afro-americana France Winddance Twine e a estreia do bbb22
O conceito de letramento racial da antropóloga afro-americana France Winddance Twine e a estreia do bbb22 | Foto: Reprodução

O conceito foi difundido pela antropóloga afro-americana France Winddance Twine. Grosso modo, é uma proposta de reeducação para descontruir o racismo, porém necessita da colaboração e percepção de todas as raças.

Quando alguém afirma que não enxerga a raça, só reforça a falta de entendimento sobre o assunto. Ainda mais se tratando de uma pessoa branca que usufrui dos benefícios dessa organização racial. Não é possível julgar as intenções de Naiara logo de cara, mas é preciso repensar esse discurso do branco inseto, que apenas quer a igualdade coletiva, mas não se movimenta, não questiona e muito menos está disposto a ouvir.

De forma simplificada, o letramento racial é se entender como um ser racializado, seja branco, amarelo, indígena e preto, sabendo como isso afeta a sua dinâmica dentro de uma sociedade. Partindo disso, o branco precisa sim ver cores e entender que a sua cor oferece oportunidades, conquistas e faz dele parte da supremacia. Somos uma sociedade com padrões eurocêntricos, por isso a forma de agir, pensar e se ver dentro desse contexto deve sim ser descontruída.

Esse conceito remete à racialização das relações, ou seja, o estabelecimento arbitrário de direitos e lugares hierarquicamente diferentes para brancos e não-brancos, que legitima uma pretensa supremacia do branco. Portanto, o racismo pode (e precisa) ser desconstruído, combatido, o que implica necessariamente lutar para que todos sejam efetivamente reconhecidos como cidadãos e que tenham de fato seus direitos garantidos.

Por Neide A.de Almeida Do Fundação Tide Setubal, para Portal Geledés.

A teoria também depende de uma prática, mas talvez alguém tenha a pergunta sobre o que a estreia do BBB22 tem a ver com isso. Simples, ao observar as opiniões emitidas, sabemos de fato que nossa sociedade carece do quesito racial. Até mesmo Natália, que é uma participante preta, expressou sua convicção por um olhar branco.

Ao afirmar suas teorias sobre a escravidão, passou uma ideia de que foi algo benéfico ou que temos que tirar o melhor de todas as situações, mesmo das mais absurdas. Podemos também dizer que esse pensamento faz pacto com a escravidão moderna e da necessidade de “se matar” de trabalhar para provar um valor, sabemos que os pretos sofrem mais dessa sina, exatamente pelas marcas que esse período deixou.

O que sabemos de fato é que a opinião de uma pessoa negra não é uma regra, somos uma comunidade diversa. Além disso, ter essa consciência racial no Brasil é uma tarefa árdua, muitos passam anos sem se reconhecer, ou buscando uma aceitação branca que nunca vão ter. Não sabemos como foi o contato de Natália com a negritude e nem podemos prever sua trajetória no programa. Porém, a estreia do BBB22 causou uma impressão da falta de abordagem racial que nos cerca.

Ressaltando que a estreia do BBB22 foi apenas uma pequena parcela de tudo que ainda estar pro vir nos três meses de confinamento. Assistir o programa e analisar algumas situações é diferente de incitar o ódio e o cancelamento. Com a força da internet e a audiência do Big Brother, é preciso ter responsabilidade em relação à vida do próximo. O importante é repensar atitudes e contribuir para um debate saudável.

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