Carol Lee Dutra- Colunista/TNM – Designer de Moda
Antes, dos confetes ao cremoso Isaac Silva, há alguns meses, o Brasil recebeu a visita de Oliver Rousteing estilista que assina as peças puro luxo da marca francesa Balmain, e atual queridinho das milionárias gringas Beyoncé e Rihanna. E o que chamou atenção, ao ler um pouco da carreira do cara, é o fato de um garoto negro de 25 anos e fazendo tanto sucesso, embora contratado pela esnobe francesa Balmain, afirmou em entrevista que a indústria da moda é descaradamente preconceituosa, e ao ser questionado se havia sido vítima de racismo, o gringo respondeu – “pra começo de conversa, não sou e nunca fui vítima de nada. Já passei por experiências racistas ao longo da minha jornada, e posso garantir: o pior racismo não surge por parte daqueles que nos olham torto, mas, sim, de quem está ao lado, em silêncio, julgando tudo, sem fazer nada”.
E, com a explanação do gringo, a gente para pra pensar que o preconceito pode ser ainda pior, e até mais prejudicial, se diante a demência do racismo, quem vê, quem sente, quem acredita ser errado, quem sente vergonha, quem se sente agredido, quem sente na pele os efeitos do preconceito em qualquer mercado de trabalho, e se diante aos fatos, paralisar ou se omitir, o cenário jamais mudará.
E, Oliver fez muito quando não paralisou seu talento diante o massacre da crítica especializada a suas criações consideradas pelo mercado burguês muito sexy/vulgar ao ajustar suas peças em mulheres curvilíneas (característica das mulheres negras) e não necessariamente aos corpos no padrão anoréxico das passarelas francesas. E, com atitudes como as de Oliver, muda se padrões e novas possibilidades aparecem para a mudança do cenário.
E, com a introdução do gringo, TNM faz um paralelo aos feitos do estilista baiano e portanto brasileiríssimo Isaac Silva, que migrou de Barreiras, interior da Bahia, para São Paulo compondo a princípio a equipe da Casa de Criadores, principal evento de moda autoral do país, até ser reconhecido como um dos estilistas da elite criativa nacional vestindo famosos como Taís Araújo,Camila Pitanga,Gaby Amarantos,Djamila Ribeiro, Liniker e Elza Soares.
E sob o slogan Acredite No Seu Axé conquistou a geral da São Paulo Fashion Week – 48 (principal semana de moda do país) colocando pra jogo uma coleção carregada de referências a religião afro-brasileira e à ancestralidade africana. Quer surra de bom gosto e boas energias numa passarela ornamentada de arruda e sal grosso? espia a doçura e a elegância retratados no desfile do fofo, dando play no vídeo.
Riqueza nos detalhes que fazem alusão a religião de matriz africana com peças que remetem as vestimentas dos Orixás e que em conjunto aos símbolos religiosos como conchas e búzios deram a identidade ao desfile.
E, ainda sob o efeito e a formosura característica das peças de Isaac, TNM pede licença poética pra comentar um pouco a mais da obra que foi seu desfile recheado de looks que faziam referência a diversos Orixás.
Destaque a predominância monocromática de toda coleção na cor branca muito usada na religião, nos longos cabelos das modelos em representação a Iemanjá, nos trabalhos em crochê, na riqueza das rendas, na diversidade dos modelos, na fluidez dos tecidos, nos bordados com búzios e no brilho prateado dos vestidos em representação ao céu de Oxalá.
Resta a TNM parabenizar o estilista por tanta belezura e profissionalismo apresentados na SPFW. Nos representa, painho.