Scholastique Mukasonga, escritora ruandesa, escreveu um artigo sobre o Brasil publicado no jornal Libération, na última segunda-feira (07). A autora, que já esteve no Brasil três vezes, nessa visita lançou em Porto Alegre e São Paulo o seu novo trabalho, “Baratas”. No Rio de Janeiro, Mukasonga participou do fórum “Women of the World”, iniciativa do Conselho Britânico em conjunto à ONG Redes da Maré.
No texto intitulado “uma mulher negra não vale nada no Brasil”, ilustrado com a foto de Marielle Franco, a escritora lembra que em sua primeira viagem não se deu conta “da violência do abismo que separa a riqueza ostentadora da pobreza extrema e do racismo exibido por pessoas que fazem sangrar um país tão cativante. ”. No entanto, nessa última visita, Scholastique reconheceu uma “atmosfera de medo e violência”.
Se em Porto Alegre, a ruandesa recebia conselhos para não sair à noite, em São Paulo soube que devia ficar atenta: “Tenha muito cuidado, pois além de mulher, você é negra. Aqui, uma mulher negra não vale nada. É preciso prestar atenção em dobro, no simples fato de atravessar uma rua, pois um carro pode avançar sobre você. Ele não vai parar, ainda mais por ser uma mulher negra”.
A reflexão de Mukasonga passou ainda pelas questões eleitorais latentes em solo verde-e-amarelo. “A eleição de Bolsonaro excita todas as violências, será que o país vai agonizar em uma ditadura ainda mais sombria de todas que já conheceu?”, questionou. Por fim, fez um pedido ao povo: “que todos os brasileiros arranquem forças de suas raízes africanas e indígenas para resistir à barbárie que ameaça um país tão belo”.