Gravou mais de duzentos álbuns. Foram cerca de duas mil músicas. Ganhou treze Grammys. Condecorada a rainha do jazz, Ella Fitzgerald eternizou sua voz ao longo de cinquenta e nove anos de carreira. Primeira dama da canção, Ella nasceu em Newport News, Virgínia, nos Estados Unidos. Negra e de família pobre, ainda cedo ficou órfã. Talvez antes de partir, seu pai tenha deixado como herança o dom musical: ele era guitarrista.
Em 1938, Ella lançou seu primeiro hit, “À-Tisket A-Tasket”. Talvez, na época, nem se desse conta de que seria aclamada por seu talento. A ascensão, no entanto, foi rápida. Ainda antes do hit, já tinha sido eleita a cantora favorita da época. Na década de 50, cedeu a administração de sua carreira ao empresário Norman Granz, deixando assim a companhia fonográfica da qual fazia parte desde os 17 anos, quando era cantora da orquestra de Chick Webb.
Apesar de brilhar nos palcos da vida – mas não dançando, que era seu maior sonho na infância -, quis também outros palcos: teve carreira na dramaturgia até meados dos anos 60, quando decidiu investir apenas na música. Nunca quis falar da vida pessoal, apesar das especulações sobre algumas músicas reproduzirem situações reais. Espontânea, Ella Fitzgerald imprimia em sua voz toda a beleza da arte que só ela sabia fazer. No ano que vem, a rainha do jazz recebe, de onde quer que esteja, as honrarias de uma biografia escrita pela professora Judith Tick, Becoming Ella: The Jazz Genius Who Transformed American Song. Não é a única: a vida da cantora já deu o tom de outras narrativas.
Naquela norte-americana tinha muito do Brasil. Ainda na década de 60, a artista liderou uma turnê pela América Latina, com grandes nomes do jazz. Influenciada pela bossa nova, Ella incluía em seu repertório um pouquinho de verde-e-amarelo, cantando “Garota de Ipanema” e “Samba de Uma Nota Só”.
No entanto, não queria repetir as coisas. Na segunda passagem pelo território brasileiro, cantou “Mas que Nada”, de Jorge Ben Jor. Estimava a cultura musical brasileira. Talvez fosse até fã de Tom Jobim, afinal gravou, em 1981, um álbum com 17 músicas, todas composições do maestro, pianista, cantor, arranjador e violonista brasileiro, como “Ele É Carioca” e “Vivo Sonhando”.
Infelizmente, até quem usa a voz na cura do mundo, um dia pode adoecer. A primeira dama da canção foi acometida por diabetes que ocasionou, em 1993, a amputação de suas pernas e, mais tarde, aos 79 anos de idade, a sua morte. Já são 21 anos sem a cantora. Se estivesse aqui, Ella Fitzgerald completaria 100 anos de idade. Ainda assim, a rainha do jazz permanece viva, em cada canto onde seu timbre dá tom à vida.