Contabilizando 15 anos de carreira artística, Dudu de Oliveira estreia seu primeiro personagem nas novelas em “Gênesis” da Record TV. Nascido em Santa Cruz da Serra, bairro do município de Duque de Caxias (RJ), o ator interpreta o cuxita Abumani, o melhor arqueiro de uma família de guerreiros que, após serem mortos numa batalha, é feito cativo e vendido. Preso, conhece José (Juliano Laham) em condição semelhante à sua, quando este já havia sido vendido pelos seus irmãos. Com a identificação que se dá entre os dois, Abumani se torna seu melhor amigo.
Sertão Encantado vai até setembro no Teatro Gazeta
‘É uma realização fazer parte deste trabalho. Tenho muito texto e muita responsabilidade por ser um personagem que acompanha o protagonista ao longo da história inteira, em muitos cenários. Vem sendo um grande desafio encarar uma novela com esse tamanho, fazendo um personagem grande e que me exige ter uma disciplina de atleta: dormir, acordar cedo, fazer esporte, decorar texto, chegar ao set focado e me preservar como ser humano para me doar de forma íntegra, inteligente. Meu intuito maior é fazer com que as pessoas possam se transformar individualmente. Sinto que estou crescendo muito como artista e como ser humano’, relata o ator de 35 anos.
Para dar conta da missão, Dudu se cercou de cuidados e construiu o personagem numa preparação a muitas mãos. ‘O Eduardo Silva é um artista premiado que, por ser um homem preto, me ajudou a entender melhor o caminho do personagem. A Rosana Garcia com a sua calma e sua experiência na TV, vem sendo uma grande parceira para me instruir nas cenas que tenho dificuldade; a Nara Marques é de uma importância ímpar para as cenas com o protagonista, pois ela cria a nossa conexão de cena; e ainda busquei fonoaudióloga e venho me preparando com Muay Thai e Boxe para ter o tônus muscular para o personagem’, enumera.
Foi quase que por acaso que Dudu começou a fazer teatro, mas foi por amor que ele permaneceu. ‘Um amigo formado em Artes Cênicas falava com tanto amor da profissão, que isso me emocionou e me deixou curioso pra conhecer. Comecei a estudar teatro em paralelo ao meu estágio em Administração e nunca esqueço a primeira experiência, apresentando esquetes num shopping local. Lembro a emoção que esse dia me gerou, os amigos me incentivando… Aquilo me trouxe um encantamento, uma felicidade que não sentia fazia tempo’, lembra Dudu, que se formou em Administração, mas resolveu seguir como ator.
A dificuldade de, estando desempregado, conciliar a faculdade com o teatro foi superada quando, no ano seguinte, o ator resolveu arriscar e ir pra São Paulo, onde mora até hoje. ‘Lá estudei com os melhores professores do Brasil e tive a sorte de estudar com professores internacionais também. Fiz muita publicidade, me tornei o homem preto com o rosto mais estampado em propagandas daquele período. Mas tive que me virar em muitas coisas para manter a chama das artes acesa’, pondera.
A partir disso, Dudu de Oliveira participou de oito peças de teatro, dentre elas ‘O Canal’, texto de Gary Richards dirigido por Mario Bortolotto, e a performance ‘Em Legítima Defesa’, que o deu a passagem sem volta para peças com temáticas negras. ‘O projeto original era uma montagem onde pessoas pretas representariam algumas situações da escravidão como as ocorridas na Europa nos séculos XVIII e XIX. Mas o projeto foi barrado e o diretor Eugênio Lima propôs que criássemos uma apresentação de protesto, cada um com seu texto, poesia, música, entre outros, pois precisávamos ser ouvidos’, reforça.
A vida de um profissional negro das artes não é fácil, e Dudu de Oliveira sente isso na própria pele. ‘O mercado é muito injusto, pois um grupo pequeno acaba sendo eleito pela branquitude e o mercado passa a só ter olhos para estes poucos negros e negras, sem levar em conta as nossas narrativas individuais. Ainda falta sensibilidade para nos enxergar dentro das nossas subjetividades, mas fico feliz em ver que o mercado está se expandindo em outras plataformas. Meu desejo é que a gente possa trabalhar, concorrer a prêmios relevantes e ver nossos rostos estampados em campanhas que nos possibilitem poder aquisitivo’, almeja.
Embora esteja em sua primeira novela, o audiovisual já fazia parte de sua trajetória através de curtas-metragens, participações na TV e no streaming, como a série ‘3%’ (Netflix); ‘Homens’ (Amazon Prime); ‘Carcereiros’ e ‘Sexo e as Negas’ (TV Globo); ‘Chamado Central’ (MultiShow); ‘Tempero Secreto’ (GNT); ‘Quero ter um milhão de amigos’ (Warner Channel), entre outras. Em breve acontece também a estreia no longa-metragem ‘Abestalhados 2’, título provisório do filme de Marcos Jorge e Marcelo Botta.