Eis que chegou o dia 8 de março e novamente somos marcadas em posts e recebemos mensagens de comemorações pelo nosso dia. Poucos querem estar atentos para o aspecto de luta que esse dia representa. Isso porque sim, o capitalismo se apropria de tudo e ressignifica esvaziando os aspectos contestatórios e criando outros aspectos que reforçam sua estrutura opressora. O que isso quer dizer? Que um dia criado para pensarmos sobre as desigualdades nas relações de gênero e o lugar de privilégio que os homens têm na nossa sociedade passa a ser um dia para nos dizerem o quanto somos bonitas, boas, sensíveis e como o mundo é mais cor-de-rosa com a nossa presença.
Engulam suas rosas porque agora eu quero falar!
Quero falar que o gênero é construído socialmente e que se temos algum padrão de comportamento que se liga ao sexo biológico, isso não é inato. São as estruturas da nossa cultura que nos moldam assim, que falam para sentarmos de determinado modo, que falam sobre ser compreensiva quando somos oprimidas, que falam para termos paciência ao invés de lutar, que classificam uma irmã como louca quando ela resolve se rebelar, que instigam nossa competição e que falam que meu corpo não é meu e o que eu visto é para outrem.
Toda essa baboseira de sensibilidade e amabilidade que beira a docilidade são estereótipos que só fazem reforçar as estruturas de poder que nos oprimem. Não se trata aqui de ser ou não ser feminista. Trata-se do cansaço de alguém que não quer mais ser manipulada por mecanismos de poder em forma de elogio. Não quero elogios, quero reconhecimento. Reconhecimento pelo meu trabalho, reconhecimento pela minha capacidade, reconhecimento por quem eu sou e o que eu faço. Porque elogios hoje para mim são apenas um modo de fazer com que eu receba um salário menor.
Ao invés de flores e coraçõezinhos quero ver se você está disposto a dedicar algumas horas do seu dia para sair em marcha ao lado de uma multidão de mulheres que querem igualdade. Quero ver se você está disposto a ter seus privilégios no trabalho diminuídos para que mulheres sejam tratadas da mesma forma. Quero ver se está disposto a chegar em casa e dividir as tarefas domésticas com a esposa. Quero ver se você está disposto a ouvir um não na hora da transa mesmo me enchendo de elogios. Quero ver se você está disposto a ler teorias sobre relações de gênero, mesmo se sentindo culpado por estar no lugar do opressor. Ao invés de um cartão animado, espero mudanças de atitude, respeito e quem sabe, parceria na luta!