De acordo com “O Tempo Não Para”, a nova novela da Rede Globo, alma não tem cor. A descoberta aconteceu quando duas personagens do passado – uma branca e uma negra -, descobriram ser irmãs após resistência da mulher preta, aparentemente uma escrava, ao lembrar que não poderia ser irmã de uma mulher branca. O discurso de que “alma não tem cor” já é nosso conhecido e se aproxima do “somos todos iguais” ou do “não existe consciência negra, existe consciência humana”.
Quando se eximem das diferenças raciais, todas essas expressões isentam também da responsabilidade sobre as disparidades sociais geradas a partir das características fenotípicas como pele escura, lábios e nariz grandes, cabelos crespos, dentre outras. Esse discurso, portanto, é capaz de naturalizar anos de escravidão, corpos jogados ao mar, chibatas contra costas escuras e mesmo hoje, o genocídio da população preta.
Se “alma não tem cor”, o genocídio tem. De acordo com um levantamento realizado pelo Fórum de Segurança Pública, de 100 homicídios, 71 são de pretos. Segundo o Atlas da violência, um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos no Brasil. São 63 mortes por dia. Por ano, 23 mil vidas negras perdidas para a violência.
Ainda assim, durante a tentativa de criar o Dia da Consciência da Luta Contra o Genocídio do Povo Negro, de acordo com denúncias, uma vereadora disse não existir genocídio no Brasil. Votar nessa lei, segundo ela, seria dizer algo que não existe. Se essa matança não existisse, negros teriam a chance de criar leis para suas próprias necessidades e não precisariam ser representados por racistas no governo. Não alcançamos espaços de poder por dois motivos, principalmente: ou os espaços não aceitam nossa representatividade ou estamos mortos.