O olhar silencioso de Carlos Gallo facilmente transparece tudo o que já viu. Sua estatura quietinha quase não denuncia a força que carrega. Sua voz de sotaque nordestino e de baixo tom enquanto conversa é mais que a humildade que carrega, tem calmaria de quem conhece a inquietação.
Carlos Gallo fala quando é preciso e insere todos no diálogo que canta. Exala respeito em cada singelo gesto, de cima ou de baixo do palco. Singelo também é o dançar coladinho das pessoas em seu clipe Verso Livre, que retrata a própria beleza do caos em Fortaleza.
Fortal, terra de grandes artistas, é a segunda cidade mais violenta do Brasil e sétima cidade mais violenta do mundo, de acordo com pesquisa realizada por ONG mexicana. Os números de assassinatos utilizados, no entanto, era mais baixo do que o obtido pela Secretaria de Segurança. Se dados oficiais fossem usados na pesquisa, Fortaleza superaria a primeira colocada da lista.
Ainda assim, com essa realidade que as mídias esquecem, Carlos Gallo canta a poesia arquitetônica das favelas e a liberdade das vielas em ruínas. Do chão de onde escorria sangue, dessa vez, só respinga a genialidade do artista.