Da mesma forma que homens negros têm uma representação excessiva na mídia em programas que se vendem como jornalismo, mas são só uma grande oportunidade de reprodução de violência apresentada por homens brancos, o inverso é proporcionalmente verdadeiro: é gigantesca a ausência de homens negros fora deste lugar. Será que esses homens não existem? Por que a mídia insiste em colocar corpos negros na posição de oferecer perigo à sociedade, mas nunca como alguém que faz parte dela? Você consegue enxergar homens negros para além de lugares de violência?
Essa reflexão foi muito provocada por duas situações: a participação do ator e pai Douglas Silva no BBB 22 e os posicionamentos do blogayrinho de favela, cineasta e escritor Valter Rege. Ambos nos fazem ver, imaginar e refletir sobre outros espaços para homens negros.
A 1ª festa do BBB22 e as impressões sociais
Qual é a representação de homens negros na mídia?
No post a respeito da invisibilidade de mulheres negras na indústria do entretenimento, levantamos o questionamento: quantos atores negros você conhece que nunca interpretaram um bandido ou personagem violento? Se é certo que existem atores brancos que não passaram por essa experiência, as palavras de Lázaro Ramos e Taís Araujo, por exemplo, se tornam ainda mais necessárias: não é só sobre ter quem interprete determinados papéis, é sobre quem escreve estes personagens também. Porque, se a vida imita a arte, como é que esse imaginário positivo poderia ser construído se não o encontramos sequer na TV?
No episódio do podcast Mano a Mano em que Lázaro e Taís abordam esse e outros assuntos que podem ter soado polêmicos, embora Lázaro mencione o quão absurdo é o número de homens que não registram seus filhos no Brasil, eles também falam sobre a importância que as figuras negras masculinas em suas vidas – e ambos tiveram os pais presentes.
E muitas famílias têm seus pais pretos presentes – ainda que essas famílias não estejam representadas na mídia. Estamos tão acostumades a um não lugar, a uma ausência, porque isso parece ser o natural, embora seja na verdade infelizmente naturalizado, que às vezes nem observamos as referências positivas ao nosso redor. Por isso, selecionamos alguns perfis nos quais você pode se inspirar:
Família Quilombo
Valter Rege
Valter Rege está sempre subvertendo a lógica da branquitude sobre qual deve ser o comportamento de um homem negro porque, para além de falar sobre o lugar que ocupa na sociedade a partir de sua raça, o artista também está sempre falando sobre a (falta de) representação positiva das favelas na mídia e sobre questões ligadas à comunidade LGBTQIA+.