Lembra que lá naquele texto sobre a Djamila estreando um programa na Trace a gente falou que outras produções estavam a caminho? Pois é, esta é uma delas! A Ponte Jornalismo lançou, em parceria com o TNM, a série “Depois das Grades”.
A série estreou nesta terça e tem oito episódios. Cada episódio conta a história de uma pessoa que já fez parte do sistema carcerário e mostra como o desenrolar de sua vida pós-prisão. O objetivo da série é justamente o de trazer o tema para o debate. Vocẽ sabia, por exemplo, que o Brasil “abriga” a terceira população carcerária do mundo? A Ponte fez uma matéria comovente e informativa, que você pode conferir aqui.
“Depois das Grades” é muito mais do que uma série sobre o sistema carcerário
Discussões a respeito do sistema carcerário muito me afligem, mas também muito me interessam. Então esse não foi o primeiro documentário que eu assisti sobre. Ainda sobre o número alarmante de presos de uma região, temos o incrível documentário “13ª Emenda”, de Ava DuVernay. Mas esse é um documentário, que envolve diversas pessoas famosas e importantes para o tema, inclusive, e faz uma discussão geral a respeito da história, dos envolvidos e dos interesses por trás do sistema carcerário.
Por contar diferentes histórias, “Depois das Grades” parte de outra perspectiva. E é interessante porque a produção envolve diferentes pessoas. E é bom pra pensarmos sobre como o sistema carcerário atinge a toda uma família e não só à pessoa que está atrás das grades.
As reflexões presentes em “Depois das Grades”
Essa é uma questão que caminha comigo já há algum tempo. Me lembro que a Fernanda Sousa, hoje doutoranda em Teoria Literária, falou durante uma aula a respeito da falta de dados sobre o impacto do sistema carcerário na vida de mulheres negras. É certo que homens negros sofrem mais violência policial e são mais diretamente afetados pelo encarceramento em massa.
Mas estes homens pertencem a uma família. E muitas vezes as mulheres de sua família são deixadas à deriva – pelo homem que forçadamente foi retirado de sua família e pelo Estado que não dá qualquer suporte a essa mãe, filha, irmã, etc., também como consequência e parte fundamental do racismo estrutural. Quem se lembra ou conhece a história de Kalief Browder, que foi injustamente acusado, se negou a confessar um crime que não cometeu e até rendeu uma série na Netflix com sua história com o envolvimento de Jay-Z? Sua mãe morreu pouco depois de sua morte. Ou da morte de Erica Garner, filha de Eric Garner, assassinado pela violência policial americana?
O primeiro episódio
Ler as reportagens da Ponte e assistir a este primeiro episódio me levaram de volta a todas essas situações e mais várias outras que não chegam às capas dos jornais. Você, infelizmente, deve conhecer mais de uma. Mas também me fez pensar sobre diferentes olhares, como o da irmã de Andresa, deste primeiro episódio. Ela conta que, durante a primeira prisão da irmã, quando ela havia tido apenas 2 de seus 7 filhos, a mãe foi até a prisão de Mairiporã resolver a situação da filha e ela ficou em casa com os sobrinhos. Como Andresa realmente ficou presa, sua irmã mais nova teve que cuidar de seus filhos e isso significou perder sua adolescência também.
Ou ainda o próprio relato de Andresa, dizendo que, mesmo após ter retirado sua filha do abrigo, a filha continuou fechada e até hoje não tem um relacionamento próximo com a mãe. É de uma riqueza de detalhes que só assistindo pra saber.
Parceria TNM
O TNM esteve envolvido na produção geral da série. E o Anderson Jesus, fundador aqui do TNM, foi produto executivo e diretor da obra.
O resultado é uma série humana e sensível, da voz que as diferentes pessoas envolvidas têm na série e em suas falas à trilha sonora. Os episódios vão ao ar toda terça-feira e você pode acompanhá-los por aqui.