Na tarde do último domingo (7), um carro foi atingido por 80 tiros em Guadalupe, Zona norte do Rio de Janeiro. O motorista, Evaldo Rosa, um homem de 51 anos, foi atingido na frente do filho e da esposa, não resistiu e morreu. Parece mais um caso da violência que se estabeleceu no Rio de Janeiro, onde até mesmo a intervenção militar se fez necessária. Mas dessa vez, como em tantas outras, militares são os próprios assassinos e, sobre mais esse caso isolado, a Polícia Civil declarou que o veículo de Evaldo foi confundido com o de criminosos.
Em comum com o menino saindo da escola, que foi baleado, ou com o homem carregando um guarda-chuva, que foi baleado, Evaldo tinha a cor da pele: preta. Não se pode aceitar equívocos que representam atentados contra a vida humana e, portanto, erros como esse jamais podem ser normalizados. Mais do que isso, é impossível se equivocar a cada um dos 80 tiros, mesmo depois de Luciana Nogueira, a viúva de Evaldo, sair do carro com seu filho e pedir ajuda aos militares.
De acordo com Luciana, os fardados não paravam de atirar, mesmo enquanto as pessoas tentavam ajudar seu marido: “O meu filho estava no carro, viu tudo. Ele quer a foto do pai. Eu falei que o pai está no hospital. Por que o quartel fez isso? Os vizinhos começaram a socorrer, mas eles continuaram atirando. E falei: ‘moço, socorre o meu esposo’. Eles não fizeram nada e ficaram de deboche”, desabafou.
De 80 equívocos consecutivos, partiu um homem caseiro, trabalhador, que adorava música e que trabalhava como segurança numa creche, protegendo crianças pouco mais novas que seu filho, de apenas 7 anos, que de perto o viu partir e sequer pode entender o que aconteceu. Mais uma vez, o Estado elimina e higieniza, de forma debochada, grotesca, cruel e legitimada por um governo executor, mais um homem inocente. E negro.
Até quando?