Quem foi o homem considerado o primeiro protagonista negro da televisão brasileira?
Batizado como Jorge da Silva, nascido no Rio de Janeiro em 21 de setembro de 1937, o ator, cineasta, roteirista e diretor se tornou Zózimo ainda na infância. Esse era seu apelido, Bulbul veio mais tarde – o nome tem origem africana e foi uma forma que ele encontrou de homenagear a sua ancestralidade. A paixão pelo cinema o acompanhava desde pequeno, porém sua carreira só teve início na década de 1960, quando atuava nas peças encenadas pelo centro Popular de Cultura e em 1962 fez sua estreia no filme Cinco Vezes Favela. Zózimo não parou por aí: ele se tornou um dos grandes nomes do audiovisual brasileiro e o primeiro protagonista negro da televisão nacional.
Em 1969 o ator protagonizou a novela Vidas em Conflito, na extinta TV Excelsior, se consagrando como o primeiro homem negro com um papel de destaque. É importante refletir que Zózimo abriu portas para uma geração, mas ainda assim as barreiras continuam a impedir que a população negra encontre um caminho dentro da TV. Engajado politicamente e com ideias revolucionárias, Zózimo passou de ator para diretor, estreando como roteirista e protagonista no filme Compasso de Espera. A trama girava em torno de Jorge, um jovem negro, bem sucedido, que tentava seguir sua vida nos padrões dos anos 60 enquanto lidava com sua paixão por Cristina (Renée de Vielmond). Tratar a perspectiva racial por meio de uma pessoa que não fazia parte do estereótipo de negro pobre foi a grande sacada do filme.
Por conta da ditatura, a produção só foi lançada em 1973, mesmo ano que Zózimo estava produzindo seu primeiro filme, o curta-metragem Alma no Olho. A produção foi inspirada no livro Alma no Exílio ( Soul on Ice) do ativista dos Panteras Negras, Eldridge Cleaver, com a interpretação da alegoria do negro na América. A obra é uma junção entre teatro, dança e cinema, com uma trilha sonora cheia de referências do jazz e da cultura africana. Tudo foi pensado para contar sobre a diáspora e a escravidão do povo negro e, mesmo sem nenhum diálogo, o filme fala com o telespectador. Porém, mais uma vez, a censura limitou a cultura e a produção só ganhou espaço nos Estados Unidos e na Europa.
No ano de 1988 acontece o lançamento do filme mais importante da carreira de Zózimo Bulbul. “Abolição” é um documentário didático que retrata a história do negro no século XX, mostrando que a assinatura da Lei Áurea não trouxe a estabilidade e liberdade para povo negro. Zózimo faleceu em 2013, aos 75 anos e deixou muito mais que as suas obras, mas sim um legado. Em 2007, fundou o Centro Afro Carioca de Cinema, um local onde a arte pode ser debatida, respeitada e produzida, sempre buscando a conexão entre o cinema negro brasileiro e africano. Ele foi o primeiro em muitas áreas do audiovisual e fez da sua vida uma arte – e com ela ensinou, divertiu e inovou.