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terça-feira, 03 outubro 2023
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Três anos da morte de Maya Angelou

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Chamava Marguerite Ann Johnson. No entanto, era por seu apelido de infância – Maya – em junção com o sobrenome de um dos seus maridos – Angelou – que ficaria conhecida a menina negra nascida em St. Louis, Missouri, Estados Unidos, em 4 de abril de 1928. O carinhoso apelido tinha sido alcunha de seu irmão Bailey, com quem viveu em Stamp, Arkansas, na companhia também da avó, após o divórcio de seus pais quanto tinha apenas três anos de idade.

Maya Angelou fez-se ouvir enquanto atriz, poeta, ativista: atuou nos movimentos negros de Martin Luther King e Malcolm X. Era a busca pela paz e a paz pela guerra, ao mesmo tempo. Talvez sua avó a tenha ensinado a importância de equilibrar luta e passividade, afinal a ela foram creditados todos os valores aprendidos. Reflexo do matriarcado, portanto, com irreverência e sabedoria, Marguerite Ann Johnson aprendeu a bater asas.

Afinal, era como pássaro. Chegou a voar pelas terras de Gana e do Egito, em 1960, quando trabalhou para os movimentos de direitos civis. Sabia, portanto, que alguns pássaros não podiam voar e, em ato de resistência, cantavam na gaiola. Foi assim que a artista se consagrou na literatura, quando narrou sua infância no sul racista do seu país de origem, escrevendo “I Know Why the Caged Bird Sing” (Eu sei por que o pássaro canta na gaiola), de 1969.

Considerado o primeiro best-seller de não ficção escrito por uma norte-americana negra, o livro foi palco para o roteiro da vida de boa parte da população negra, com base nos traumas vivenciados, e depois dele vieram outras cinco obras. Maya contou ter sofrido um estupro aos oito anos de idade, em Chicago, quando visitava a mãe. O agressor era o próprio companheiro da figura maternal e após o acontecido, Angelou confidenciou ao seu irmão o ocorrido. Quando soube, anos mais tarde, que seu tio havia matado o estuprador, sentiu culpa e ficou, por cinco anos, muda.

A escritora demorou a se despir da culpa. Mas aprendeu a cantar também fora da gaiola: foi professora de Estudos Americanos na Wake Forest University, foi convidada a ler poemas em duas diferentes tomadas de posse presidenciais – em 1993, na era Bill Clinton e em 2009, com Barack Obama – foi uma das escritoras negras mais importantes e mais lidas dos Estados Unidos. Ficou, inclusive, conhecida não apenas por  I Know Why the Caged Bird Sings, mas também por Carta à minha filha: um legado inspirador para todas as mulheres que amam, sofrem e lutam pela vida – dedicado à filha que nunca tive, de 2008.

Considerada um tesouro nacional, Maya Angelou deixou de escrever novas palavras em 28 de maio de 2014, quando faleceu. Deixou no entanto, as orações já escritas para que pudessem apreciar sua grandeza e, ao mesmo tempo, sua destreza. Há três anos, a pequena menina negra que sofreu racismo num estado do sul de seu país partiu deixando as mais sábias heranças principalmente às mulheres. Três anos parece pouco, mas para uma perda dessa magnitude, esse tempo parece uma eternidade. Foi o último canto de um pássaro que voou para não voltar mais, mas deixou aberta a gaiola para que outros, em diferentes timbres, prolonguem a sua música.

“Toda vez que uma mulher se defende, sem nem perceber que isso é possível, sem qualquer pretensão, ela defende todas as mulheres”

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