A Netflix é um fenômeno no Brasil. A empresa possuía 3,21 milhões de assinantes no país em outubro de 2015, anunciou no último trimestre de 2016 um crescimento para 7,05 milhões de assinantes brasileiros. O serviço de streaming tem mais assinantes do que a empresa Sky de tv a cabo. Acredita-se que seu faturamento no Brasil ultrapasse o lucro da rede SBT de comunicação. Sim, Netflix caiu no gosto dos brasileiros.
Minha mãe, por exemplo, trocou as novelas que assistia nos seus horários de descanso por séries da Netflix. Ela ainda fica bem triste quando a série acaba e precisa esperar uma temporada nova sair. Mas logo se engaja em outra e pronto, já esqueceu a tristeza da outra que acabou. Ela começou com comédias tipo Modern Family e Grace e Frankie. Passeou por ação e suspense com a policial que era médium, a Viola como advogada, a tatuada como espiã/policial e a saga de Grey e sua melhor amiga Cristina Yang naquele hospital insano. Em comum, o lugar de mulheres não apenas como apoio para homens heróis. Mulheres que estão em posições de narração da história ou que compartilham esse lugar com personagens masculinos sem perderem em nada sua riqueza e complexidade.
A televisão aberta e sua dramaturgia pouco acompanhou essa transformação que nossa sociedade têm vivido. E olha que não estou falando aqui de séries super recentes. Grey’s Anatomy já completa 12 anos. Alguns autores insistem em dizer que a sociedade brasileira não está preparada para certos temas e prefere “poupá-la”, optando pelo “tradicional”. Então, eis que nós, jovens ou não (que como minha mãe podem ter mais de 60 anos) acompanham as transformações da sociedade e preferem séries com mulheres poderosas mas não estereotipadas, com gays, lésbicas, travestis, trans, com gordas, com idosas, migramos nossas horas de tv para a Netflix.
Em palestra para o evento Mulheres Digitais, que aconteceu em 1º de Abril em São Paulo, a publicitária que é coordenadora de Marketing da Netflix, Renata Vieira falou sobre a questão da representatividade. Segundo Renata a empresa se posiciona contando histórias que só são possíveis porque são contadas por aqueles personagens e que por isso se conecta com as histórias de quem assiste. Renata explica o posicionamento da empresa da seguinte forma: “Estamos sempre buscando o melhor, para poder mostrar para todas as pessoas que elas têm voz. Somos uma empresa de conteúdo que tem toda a responsabilidade de mostrar para as pessoas o quão forte elas são. Então, tudo o que fazemos por este posicionamento não é mais do que a nossa obrigação”.
Concordo e apoio sempre que fazemos entretenimento que se relaciona com as transformações que apoiam o respeito entre as pessoas e que não reforçam estruturas de opressão. Talvez a mudança na relação de poder que os super personagens exerciam em relação ao público também seja reflexo desse novo momento em que o superpoder talvez esteja no que antes era visto como fraqueza ou defeito. Para encerrar, podemos ver um teaser que a Netfllix fez no ano passado sobre isso: