Sendo o Brasil último país das Américas a abolir a escravidão da população africana, em 2019 ainda estamos longe de superar os efeitos colaterais deste regime cruel, e os dados alarmantes escancaram uma triste e atual realidade da população negra. E na semana em que se comemora o Dia da Consciência Negra, data atribuída à morte de Zumbi dos Palmares em 1695, é semana de “passar a régua” sobre os números que representam o racismo estrutural e seus impactos em nosso cotidiano. Fato é, que mais de um século de uma subjetiva abolição, o que impera a negros é uma deprimente realidade de um quase genocídio negro escancarado através de dados apresentados no Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Números que nos representam;
Consciência Negra 1 – pretos tem estatisticamente mais de 50% a mais em probabilidade em ser assassinado no Brasil que uma pessoa branca, e os dados ao invés de baixarem sobem a cada ano.
Consciência Negra 2 – jovens pretos tem estatisticamente quase o triplo de probabilidade de morrer assassinado no Brasil do que um jovem branco.
Consciência Negra 3 – embora policiais negros representem menos de 35% do efetivo de policiais brasileiros, mais da 50% dos policiais assassinados no ofício são negros.
Consciência Negra 4 – mais de 70% das pessoas mortas em ação policial no Brasil são pretas.
Consciência Negra 5 – pretas e pardas somam mais de 60% das mulheres que são vítimas de abusos contra sua honra, vida, segurança, integridade física e psicológica da totalidade de mulheres no Brasil.
Transformar a realidade de um Brasil acomodado no racismo estrutural, não é, e jamais será tarefa fácil, porém é responsabilidade de todos – negros e brancos. A consciência deve partir dos dados estatísticos apresentados neste post, e perceber o tamanho do buraco que a desigualdade nos separa da violência vivida por brancos e negros neste país, e fecharmos os olhos diante números tão expressivos é permitir que um quase “genocídio” do povo preto se perpetue. O ponto de partida pra estancar os efeitos negativos do racismo até que se estanque a “doença” que é o racismo, está na valorização e reconhecimento do negro como igual e capaz tanto quanto o branco, é acreditar que é possível assumir cargos de chefia, é se qualificar e se apresentar a cargos de chefia, é apoiar os projetos encabeçados pelo povo preto, é apoiar o crescimento do empreendedorismo negro, é exigir o investimento a educação, é o incentivo e participação na criação de projetos de lei voltadas a políticas públicas que beneficiem o povo preto, é fiscalizar e cobrar a execução de leis que inibem e punem atos de racismo com o rigor que este tipo de crime deva ser punido, é reforçar todos os dias a nossos “irmãos” o quanto somos capazes e geniais. E, nesta esteira da genialidade que TNM exibe a seguir gente da gente que mudaram o rumo da história no Brasil e no mundo. Espia o *Squad.
ZUMBI DOS PALMARES – último dos líderes do Quilombo dos Palmares, lutou pela liberdade do povo negro, pela liberdade de culto, religião e prática da cultura africana no Brasil. O dia da Consciência Negra é comemorado no dia 20 de novembro, dia de sua morte.
NELSON MANDELA – símbolo da luta contra o Apartheid, regime segregacionista da África do Sul, foi ganhador do Nobel da Paz em 1993 e é conhecido como o Pai da Pátria em seu país. Foi o primeiro presidente negro da África do Sul entre 1994 e 1999, e só alcançou o poder depois de 30 anos preso por, segundo líderes da oposição: “praticar terrorismo contra o regime Apartheid”.
MACHADO DE ASSIS – um dos melhores escritores brasileiros, e que muitos, até lerem este post, não sabiam que era negro. Jamais fez universidade, uma realidade da situação dos negros no Brasil. Durante a época da Proclamação da República, transitou entre vários gêneros literários e foi assíduo comentador da situação política brasileira. Fundou, e foi o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras.
ROSA PARKS – recusou ceder o seu lugar no ônibus para um branco, e foi presa. Seu ato deu início ao movimento denominado: “Boicote aos Autocarros de Montgomery” que, posteriormente, iniciou a luta antissegregacionista nos Estados Unidos.
DANDARA DOS PALMARES – foi uma grande guerreira na lua pela liberdade do povo negro, no século XVII, conquistando espaço de liderança nas lutas palmarinas e enfrentando todas as lutas seguintes em Palmares. Foi companheira do Zumbi de Palmares sem perder o protagonismo feminino. Dandara morreu em 1694 durante uma batalha para defender o Quilombo dos Macacos.
JESSE OWENS – Nas olimpíadas de Berlim, em 1936, Jesse Owens ganhou quatro medalhas de ouro nas provas de atletismo. Em sua premiação, Adolf Hitler não o cumprimentou. Franklin Roosevelt, presidente dos Estados Unidos no período, jamais parabenizou o atleta por seu feito.
MARTIN LUTHER KING JR – Um dos ativistas mais famosos dos Estados Unidos, Luther King era pastor da Igreja Batista e lutou pela igualdade racial, discursando por todo o território americano e pregando o ativismo pacífico. Recebeu em 1964 o Nobel da Paz e, antes que pudesse ver os negros norte-americanos ganhando o direito à voto em todo o país, foi assassinado em uma marcha em um hotel em Memphis. Sua cinebiografia, Selma, foi lançada no Brasil no início deste ano, e relata as marchas históricas de 1965.
KATHERINE JOHNSON, DOROTHY VAUGHAN AND MARY JACKSON – mulheres que inspiraram o filme indicado a três categorias do Oscar (melhor filme, melhor roteiro adaptado e atriz coadjuvante), Estrelas Além do Tempo. Pioneiras, de formação respeitável, almejavam ter altos cargos na NASA, num país onde reinava o preconceito e a corrida espacial era o principal tema da época. As limitações de acesso a parte essencial dos arquivos é somente uma fração do que elas sofreram, afinal, na época pré-Rosa Parks, assentos de ônibus e até banheiros eram segregados pela cor de pele. Elas venceram todas as barreiras e chegaram, lá.
ELZA GOMES DA CONCEIÇÃO, conhecida como Elza Soares é cantora e compositora brasileira. Eleita pela Rádio BBC de Londres como a cantora brasileira do milênio. A escolha teve origem no projeto The Millennium Concerts, da rádio inglesa, criado para comemorar a chegada do ano 2000. Elza em sua vida pessoal além de traduzir e amplificar discursos feministas que tomam conta hoje dos debates e denúncias por todo o mundo, Elza é também ela própria, em sua vida, resistência e história, a própria encarnação do que se definiu como empoderamento feminino. Nascida na miséria, forçada a se casar aos 12 anos, tendo virado mãe aos 13, aos 21 anos Elza já era viúva e tinha enterrado dois filhos. Antes de se tornar, portanto, a “cantora do milênio”.
BARACK HUSSEIN OBAMA II (OU JR) – Foi o 44º presidente dos Estados Unidos (2009-2017), e seu governo foi marcado pela luta por maior igualdade entre gêneros e raças. Reeleito em 2013 terminou seu mandato em 2017. Obama estudou Ciências Políticas na Universidade de Columbia e se formou em Direito, em Havard. Foi o primeiro editor afro-americano da Havard Law Review revista de estudantes do curso.
LEWIS CARL DAVIDSON HAMILTON – brilhante automobilista britânico, seis vezes campeão mundial de Fórmula 1, nos anos de 2008, 2014, 2015, 2017, 2018 e 2019 num universo, desde então, dominado por brancos.
ANGELA YVONE DAVIS – professora americana e filósofa socialista alcançou notoriedade mundial em 1970 como integrante do Partido Comunista dos Estados Unidos, dos Panteras Negras, por sua militância pelos direitos das mulheres, contra a discriminação social e racial nos Estados Unidos e por ser personagem de um dos mais polêmicos e famosos julgamentos criminais da recente história americana.
LÁZARO RAMOS – artista de teatro, dança e canto participou de mais de 14 espetáculos, incluindo o sucesso de público e crítica na peça “A Máquina”. Em 2002, estrela em Madame Satã, seu primeiro papel como protagonista no cinema. Foi destaque em Carandiru e O Homem do Ano. Atuou em três longas sendo indicado ao Emmy por seu papel como Foguinho em ‘Cobras e Lagartos’. Homenageado com o Troféu Oscarito – prêmio dedicado a atores e atrizes que marcaram o cinema brasileiro. Estrelou em várias obras e já teve a honra de ser ovacionado e aplaudido de pé pela plateia do Palácio dos Festivais.
SHAWN COREY CARTER – conhecido como JAY-Z, é rapper, compositor, produtor e empresário norte-americano, e um dos artistas de hip hop mais bem sucedidos empresarialmente e financeiramente nos Estados Unidos. Em 2018, a Forbes estimava seu patrimônio líquido em 900 milhões de dólares.
VIOLA DAVIS – Atriz, ao subir no palco da 89ª edição do Oscar para receber seu prêmio como atriz fez história. E, com a vitória por seu papel em Um Limite Entre Nós, de Denzel Washington, a atriz se tornou a 23ª atriz a completar a chamada Tríplice Coroa de Atuação, termo usado para descrever atores que foram premiados nos três diferentes veículos: cinema, teatro e TV, respectivamente com o Oscar, Tony e Emmy. Protagonista devuma das maiores séries da atualidade – ganhou o Emmy de melhor atriz, e marcou sua premiação com o discurso: “Na minha mente, eu vejo uma linha. E sobre essa linha que eu vejo campos verdes e flores lindas e belas mulheres brancas com seus braços esticados para fora sobre essa linha. Mas eu não consigo chegar lá, não sei porque. Eu não consigo superar essa linha. Isso era Harriet Tubman em 1800. E deixe-me dizer uma coisa, a única coisa que separa as mulheres de cor de qualquer outra pessoa é oportunidade. Você não pode ganhar um Emmy por papéis que simplesmente não existem.
KOFI ANNAN – Diplomata de Gana, foi entre 1997 e 2007, o sétimo secretário-geral da Organização das Nações Unidas, tendo sido laureado com o Nobel da Paz em 2001. Annan e as Nações Unidas foram co-receptores do Prêmio Nobel da Paz de 2001 pela criação do Fundo Global de Luta contra Aids, Tuberculose e Malária para ajudar países em desenvolvimento em seus esforços para cuidar de seu povo.
MICHAEL JEFFER JORDAN – Jordan se tornou o primeiro jogador na história da NBA a ganhar três prêmios consecutivos da MPV das Finais. Anunciou sua aposentadoria, no auge da carreira, principalmente após ser um dos líderes do “Dream Team”, nas Olimpíadas de 1992. Assinou contrato com o time de beisebol, para perseguir um sonho de seu pai. Retornou ao Basquetebol ajudando sua equipe a ganhar mais três títulos nas temporadas de 1995-1996, 1996-1997 e 1997-1998. Em 2001 foi jogar no Washington Wizards, jogando seu 14º e último NBA All-Star Game, em 2003 e se tornou o primeiro jogador com mais de 40 anos a marcar 43 pontos em um jogo da NBA.
PRINCE ROGERS NELSON – cantor, músico, compositor, produtor, gênio da guitarra e dançarino não há como lembrar de Prince sem mencionar sua genialidade e sua capacidade de fazer música com uma forma diferenciada e muito peculiar. Ao longo da carreira vendeu milhões de discos, em 1979 com seu segundo álbum emplacou várias músicas no Bilboard 200. Bastante controverso, vestia-se de um perfeccionismo que em vez de projetá-lo fazia ser fracasso em muitas situações profissionais, o que não o impedia de ser ele mesmo. Após sua morte, ainda são relançados seus álbuns como Purple Rain com material exclusivo. A NPG Records e a Warner Bros anunciaram a coleção com músicas nunca lançadas antes e versões estendidas provando a imortalidade e talento de Prince.
DENZEL WASHINGTON – recebeu dois Oscares: melhor Ator Coadjuvante por Glory (1990) e melhor Ator por Training Day (2002); um Prêmio Tony, um SAG Awards, dois Globos de Ouro e um outro pelo conjunto da obra. O ator Denzel Washington foi celebrado em Hollywood por sua carreira de cinco décadas, e que abriu o caminho para uma geração de estrelas de cinema negras. O diretor Spike Lee entregou ao ator o “Life Achievement Award” do American Film Institute (AFI) em reconhecimento às conquistas da vida profissional de Washington. O prêmio é considerado a maior honra para uma carreira cinematográfica em Hollywood.
Citar todos os nomes marcantes em nossa história seria impossível, a humanidade sempre será grata aos muitos negros que deixaram ou deixarão seu exemplo de resistência; Pixanguinha, Juliano Moreira, Ray Charles, Spike Lee, Nina Simone, Jordan Peele, Michael Jackson, Billie Holiday, John Coltrane, Grande Otelo, Carolina Maria de Jesus, Mãe Menininha de Gantois, Aleijadinho, Tereza de Benguela, Luís Gama, Ruth de Souza, Marielle Franco, entre tantos outros… nosso eterno agradecimento.
Fontes da estatística apresentada no Fórum Brasileiro de Segurança Pública: Atlas da violência 2019, Anuário Brasileiro de Segurança Pública, ano 13, 2019, Pesquisa visível e invisível, a vitimização de mulheres no Brasil, 2º ed. 2019, índice de vulnerabilidade Juvenil à violência, 2017, Ministério da Justiça e Segurança Pública, Pesquisa de Segurança Pública 2017. *Squad – pelotão