Quinta vereadora mais votada da cidade do Rio de Janeiro é executada com quatro tiros na cabeça.
“A gente não tem que normalizar o entrar na favela e ter que acender as luzes. Ou sair da favela e ter que ouvir de um agente de segurança que ainda não matou ninguém hoje. A gente vai entrar, a gente vai sair, a gente vai fazer políticas, a gente vai resistir, a gente vai dar a cara a tapa. Isso é uma das coisas que mais me orgulham”.
Marielle Franco 27/07/1079 – 14/03/2018
Rua Joaquim Palhares, centro do Rio de Janeiro. São pouco mais de 21h30min.
Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove.
Nove tiros, quatro na cabeça.
Marielle tinha acabado de sair de um encontro de mulheres negras no bairro da Lapa quando na rua Joaquim Palhares um carro pareou com o que ela estava. Os assassinos, já sabendo que Marielle estava sentada ao lado direito do banco traseiro, atiraram nove vezes de trás do carro. Dos nove tiros, quatro acertaram Marielle na cabeça. Anderson Pedro Gomes, o motorista, estava na linha de tiro e também morreu. Uma assessora de imprensa que a acompanhava sofreu ferimentos leves causados pelos estilhaços dos tiros. Marielle silenciou.
Uma execução no centro do Rio de Janeiro. Mataram mais uma guerreira.
“Parem de nos matar” foi a frase que Mairelle Franco postou em sua rede social quatro dias antes de ser executada. A quinta vereadora carioca mais votada na eleição de 2016, foi eleita pelo PSOL com mais de 46 mil votos. Ativista pelos direitos humanos, negra, feminista, socióloga e Mestre em aAdministração Pública.Marielle gostava de dizer que era cria da Maré, um dos complexos onde mais morrem pobres e pretos no Rio de Janeiro. A vereadora era relatora da comissão formada para acompanhar a intervenção federal na cidade. A execução de Marielle acontece dias após ela denunciar a ação da Polícia Militar em Acari através de suas redes sociais.
No sábado dia 9 de março ela postou:
Sábado de terror em Acari! O 41° batalhão é conhecido como Batalhão da Morte. É assim que sempre operou a polícia militar do Rio de Janeiro e agora opera ainda mais forte com a intervenção. CHEGA de esculachar a população. CHEGA de matar nossos jovens.
Dia 10 de março, continuou com as denúncias:
Precisamos gritar para que todos saibam o está acontecendo em Acari nesse momento. O 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando moradores de Acari. Nessa semana dois jovens foram mortos e jogados em um valão. Hoje a polícia andou pelas ruas ameaçando os moradores. Acontece desde sempre e com a intervenção ficou ainda pior.
Dia 13, na véspera de sua execução, escreveu sobre o assassinato de um jovem negro em manguinhos:
“Mais um que pode estar entrando para a conta de homicídios da polícia. Quantos jovens precisarão morrer para que essa guerra aos pobres acabe?”
Marielle começou a atuar como ativista dos direitos humanos no Complexo da Maré nos anos 2000 depois que perdeu uma amiga assassinada. Queria usar o seu lugar de favelada para fazer política de uma outra maneira. Mulher negra, feminista, periférica e foi executada por não se calar diante da estrutura genocida brasileira. Denunciava os corpos de mulheres negras que são arrastados diariamente pelo asfalto quente da favela, gritava pela vida dos jovens que são exterminados enquanto muitos assistem a novela.
Porque tantos tiros numa mulher desarmada? Porque preta inteligente não pode. As que ousarem sentar na tribuna e movimentar a estrutura serão duramente punidas com a vida. Mais de 46 mil votos, mais de 46 mil sonhos de uma vida mais digna foram assassinados na noite de quarta-feira.
Uma série de protestos estão sendo organizados por cidades brasileiras para que possamos gritar que sim, vidas negras importam! Reuni algumas informações aqui por capitais.
Não se engane, nove tiros não é assalto.