Prisão de jovem negra se apoia em provas frágeis e demonstra a seletividade do sistema penal brasileiro.
O dia é 05 de novembro de 2017, às 13 horas em ponto fecham-se os portões para quem vai fazer a prova do Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio. Bárbara Querino é uma jovem negra de 19 anos e está sentada esperando para começar a prova. Ao contrário das recomendações dos professores especialistas para o dia anterior ao exame, Barbara não descansou na véspera, nem teve uma alimentação balanceada ou uma noite de sono tranquila. A jovem veio direto do 98O Distrito Policial de São Paulo onde, segundo seu advogado Bruno Cândido Sankofa, passou cerca de 16 horas imobilizada numa viatura policial.
Barbara está sendo acusada de participação em assaltos que teriam ocorrido na zona sul da cidade de São Paulo nos dias 10 e 26 de setembro do ano passado. Na delegacia, ela contou que no dia de um dos assaltos estava fora da cidade trabalhando como modelo. As fotos feitas no dia 10 de setembro no Guarujá foram apresentadas durante o depoimento. A família alega que as imagens no celular foram apagadas pelos policiais, mas Barbara foi liberada e da delegacia foi direto para a prova do Enem correr atrás de seu sonho, cursar uma faculdade de jornalismo. “Ela ficou desesperada quando foi presa em novembro porque não queria perder o Enem. Era a oportunidade que ela via para conseguir realizar seu sonho de ser jornalista”, disse uma amiga.
No dia 16 de janeiro, outra vez a polícia foi buscar Bárbara. Uma das vitimas a teria reconhecido como uma das assaltantes. Sem considerar as provas apresentadas pela defesa, Barbara foi conduzida à Penitenciária Feminina de Franco da Rocha. E está presa desde então. Além do reconhecimento da vítima, não há nenhuma prova de que Barbara estaria realmente presente no crime. Em contrapartida, Babiy, como é carinhosamente chamada pelos amigos e familiares, tem o testemunho dos colegas de trabalho que estavam com ela no momento em que ocorreram os crimes, e algumas postagens realizadas em suas redes sociais que mostram que ela estava no Guarujá.
Bárbara tem o perfil que o sistema prisional brasileiro reconhece como um sujeito que não é digno de direitos e merece ser punido e separado da sociedade. Quando se trata de mulheres, o sistema se preocupa em perseguir e punir mulheres negras, jovens, pobres e solteiras como ela. Segundo pesquisa realizada pelo Departamento Penitenciário Nacional em junho de 2014, a população carcerária feminina brasileira é composta em 68% por mulheres negras contra 31% de mulheres brancas. No momento de perseguir suspeitos, o Estado é bastante seletivo. O mesmo sistema penal que pune Bárbara liberta homens brancos presos em flagrante com grandes quantidades de drogas e armas.
O advogado de Babiy impetrou Habeas Corpus e pedido para relaxamento de prisão, os dois pedidos foram recusados e ele prepara novo pedido. No último dia 03/02 a jovem completou 20 anos de idade dentro da prisão. A boa nota que teve no ENEM lhe rendeu uma bolsa de estudos para cursar a tão sonhada faculdade de jornalismo. A mais velha de uma família de seis irmãos seria a primeira a realizar um curso superior. Mas o sonho foi tirado juntamente com sua liberdade.
Para custear os gastos com a defesa, os amigos estão fazendo uma vaquinha. Qualquer um pode ajudar clicando aqui.
“Ela está confiante na sua inocência e já está ensinando as outras meninas da cadeia a dançar. A essência dela em si não foi afetada. Apesar de tantas questões terem afetado o emocional, a essência em si permanece da mesma forma. Ela tem muitos sonhos”, contou a amiga Mayara Vieira uma das organizadoras do movimento pela liberdade de Babiy.