O movimento feminista tem se repensado para abranger uma diversidade maior de reivindicações. Será que a igualdade pela qual luta a mulher negra é a mesma igualdade que luta a mulher branca? E quanto às mulheres imigrantes, refugiadas, transgênero, homossexuais ou pobres? Em que medida o movimento tem abraçado as reivindicações de todas essas mulheres como uma pauta própria e não como um “anexo” às reivindicações da “mulher universal”, que sabemos, tem a mulher branca como referência.
Eis que a era Trump fez com que o debate no interior do movimento tomasse um novo fôlego e para esse dia 8 de março de 2017, intelectuais de diversas origens se reuniram para chamar uma GREVE GERAL INTERNACIONAL. O texto publicado na Viewpoint Magazine tem o título de ‘Para além do “faça acontecer”: por um feminismo dos 99% e uma greve internacional militante em 8 de março’. O texto foi traduzido por Daniela Mussi para o Blog Junho e quem assina é Angela Davis, Cinzia Arruzza, Keeanga-Yamahtta Taylor, Linda Martín Alcoff, Nancy Fraser, Tithi Bhattacharya e Rasmea Yousef Odeh.
Segundo o texto, é preciso mais do que a luta direta contra Trump, é preciso lutar contra a política que ele representa. “Em nossa opinião, não basta se opor a Trump e suas políticas agressivamente misóginas, homofóbicas, transfóbicas e racistas. Também precisamos alvejar o ataque neoliberal em curso sobre os direitos sociais e trabalhistas (…) As condições de vida das mulheres, especialmente as das mulheres de cor e as trabalhadoras, desempregadas e migrantes, têm-se deteriorado de forma constante nos últimos 30 anos, graças à financeirização e à globalização empresarial”.
Como saída, o texto propõe um novo tipo de feminismo que segundo elas vem sendo buscado de forma consciente em diversas partes do mundo. Elas citam a Polônia, a América Latina, Itália, Coréia do Sul e Irlanda. Mencionam que essas lutas articulam pautas como o direito reprodutivo, oposição à violência masculina, com “oposição à informalização do trabalho e à desigualdade salarial, ao mesmo tempo em que se opõem às políticas de homofobia, transfobia e xenofobia”. Trata-se de um movimento capaz de abranger as diferenças entre as mulheres.
A proposta para a construção desse novo movimento feminista é começar no dia 8 de março com uma greve internacional contra a violência masculina e na defesa dos direitos reprodutivos. A proposta é construir um “dia internacional de luta – um dia de greves, marchas e bloqueios de estradas, pontes e praças; abstenção do trabalho doméstico, de cuidados e sexual; boicote e denuncia de políticos e empresas misóginas, greves em instituições educacionais”. Por fim, elas reafirmam que a luta é por “um feminismo para os 99%, um feminismo de base, anticapitalista; um feminismo solidário com as trabalhadoras, suas famílias e aliados em todo o mundo”.
Tudo o que reclamávamos que o feminismo branco não reivindicava, como a morte de nossos filhos negros, a luta pela regulamentação do emprego doméstico, só pra dar exemplos iniciais, parece que agora pode começar a ser discutido. Espero de verdade que possamos travar uma mesma luta por direitos para a base. Como elas disseram, que seja um feminismo com as trabalhadoras. E que o 8 de março honre a luta das mulheres trabalhadoras que deram sentido ao dia.