A televisão ainda usa tática da cota racial, com um negro em cada programa e no humor não poderia ser diferente. relembre alguns nomes e conheçam outros humoristas negros.
Na semana passada, o humorista Hélio de la Peña questionou em seu Twitter o motivo de a rede Globo ter deixado de lado o programa “Casseta & Planeta” na reportagem especial dos 70 anos da televisão brasileira, comemorado no dia 18 de setembro. O questionamento levantou outra discussão, sobre a ausência de humoristas negros na televisão.
Hélio de la Peña questiona: ‘Por que o Casseta foi apagado pela Globo?’
“Casseta & Planeta” esteve no ar por cerca de vinte anos e, durante todo esse tempo, Hélio era o único negro do elenco. Partindo para analisar outros programas do mesmo eixo, vemos que esse padrão se repete, pois há pouquíssimos humoristas pretos e pretas com espaço na grande mídia. Quando há é apenas um, o que passa a sensação da cota, do negro único.
“Zorra Total” teve inicio em 1999 e fez uma pausa, voltando em 2015 com um formado novo e chamado de “Zorra”. Durante esses anos, o único humorista negro a interpretar um papel principal era Paulo Silvino, que faleceu em 2017. Antes do sucesso do Zorra Total, a rede Globo produziu “Os Trapalhões”, que contava as aventuras de quatros amigos, interpretados por Renato Aragão, Dedé Santana, Zacarias e Mussum, sendo este o único negro. Mussum foi um dos personagens mais marcantes do seriado, sendo famoso tambpem por trocar os finais das palavras por “is” e imortalizar termos como “cacildes”.
Até mesmo no “Casseta & Planeta” o roteiro não seria bem aceito atualmente, pois em muitas das esquetes a cor de Hélio era a grande piada. Tratando de forma inofensiva em quadros como “Chocolate Cumprimenta” – onde o humorista ficava apenas cumprimentando pessoa, relata a incapacidade de se criar humor sem ser apelativo. Já no “Zorra” com o formato reformulado se vê algumas mudanças, porém nada muito efetivo. Até o ano passado o programa contava com Érico Brás, Luis Miranda e Magda Gomes, dos três Érico e Luís deixaram a produção. Nesse meio tempo, a emissora estava procurando por humoristas negros para compor o elenco, mas a sensação ainda é aquela de cumprir cotas. O programa até fez um trabalho mais consciente e em alguns episódios a questão racial foi deixada de lado. Sem apelação, foi feito um humor com humoristas negros, afinal isso não é um bicho de sete cabeças.
E as mulheres dentro do humor?
Se em anos de televisão e de programas de humor ainda não vemos humoristas negros, as mulheres pretas ficam mais atrás nesse quesito. Há milhares de estigmas que perseguem as humoristas, porém temos nomes relevantes como Dani Calabresa, Tatá Werneck, Maria Clara Gueiros, Fernanda Torres, Marisa Orth, Ingrid Guimarães, Bruna Louise e outras de várias gerações. Mas todas elas são brancas e por mais que tenham enfrentado o machismo, ainda assim são privilegiadas.
Por muitas vezes a mulher negra foi representada dentro do humor, porém de forma errônea. Com os esteriótipos de barraqueira, favelada e sem educação. Além disso geralmente nessas representações acontecia o uso do abominável blackface, como o da personagem Adelaide do “Zorra Total”, interpretada por Rodrigo Sant’anna. Fica o questionamento, cadê as mulheres pretas? Contando histórias e sendo a voz ativa dentro do humor?
Na TV aberta temos Magda Gomes fazendo parte do “Zorra” e no espaço de Stand Up o grupo “Coisas de Preto” conta com Bruna Braga, de 25 anos, além de Micheli Machado, Tia Má, Nelly Coelho, Yas Fiorelo, Hélio de la Peña, Thiago Phernandez, Yuri Marçal, Gui Preto e Edson Duavy. Formando assim o primeiro Stand Up Comedy Black do Brasil. É possível perceber que se os pretos não criarem espaços para os próprios pretos não vamos ver a representatividade, vamos apenas cumprir cotas. Programas escritos, dirigidos por brancos e para brancos vão continuar com histórias rasas.