Por Amanda Sthephanie
Pela mãe, foi batizado Mauro Mateus dos Santos. Pelo irmão, Sabotage. Quem sempre desde o ventre ouve a mãe cantar pro santo, logo aprende a cantar também. Cresceu na marginalização do mundo, onde aprendeu a sobrevivência no país da fome. Quando homem, se tornou incompreendido. Homem, na quebrada, é quem não morreu antes dos 12. Já tinha 15 quando teve os dentes arrancados um por um pelas mãos da polícia. Aprendeu falar gíria criminal e apertar o gatilho.
Andava com o revólver no bolso. Atirava na bola dos moleques com um calibre 12 ou uma PT. Dependia. Diziam que ele era ruim. Sabotava a paz da quebrada porque personificava a revolta. Quem vivia a andar armado, um dia quis trocar munição. Se muniu da verdade do gueto. Atirou contra o mundo. Permanecia com o fuzil no bolso, mas preferia o projétil das palavras. Dizem que andava armado nos shows: também com revólver e palavra.
Corintiano em Sampa e flamenguista no Rio, Maurinho teve dois filhos. Teve também um pitbull, o Sabote. Viviam com o enorme animal de estimação num barraco de dois cômodos. Mesmo assim, um bom lugar. E se respeito é pra quem tem, então Sabotage sempre respeitou sua devoção. Quando tinha vício, escondeu uma pedra embaixo da santa em sua casa. No dia seguinte, a pedra havia derretido. Diante do milagre, nunca mais fumou pedra.
Entendeu que além da vida, Rap é compromisso. Mesmo quando foi embora, fez prolongar o recado. Respeito é lei e nem tudo está perdido, vale lembrar ainda hoje. Quem foi interno da antiga FEBEM e traficante na Zona Sul fez bradar seu ritmo e poesia ao mundo. Sabota morou na favela desde os dois anos de idade. Dos 8 aos 19, fez seus corres com revólver na mão. Lembrava sempre ter saído por causa de Deus, não por intimidação policial: “Tapa na orelha só deixa a criança mais nervosa”.
Na manhã de 24 de janeiro de 2003, Maurinho levava sua mulher ao ponto de ônibus. Avisava o evento que participaria em Porto Alegre. Quando entrou no carro para seguir viagem, foi abordado. Foram quatro disparos. Sabotage foi socorrido, mas não resistiu. Partiu, hoje descansa num bom lugar. O maestro do Canão deixou saudades.