Nos noticiários ou nas discussões sobre as violências a que a mulher é facilmente submetida, o abuso sexual tem sido cada dia mais abordado. No entanto, o estupro numa relação de casal ainda é um assunto censurado, embora atinja e permeie o relacionamento afetivo a dois (ou mais) mais frequentemente do que se imagina.
Um curta-metragem francês, ‘Je Suis Ordinairie – Soy Ordinaria’ (Sou Comum) , decidiu quebrar o tabu social e expor esse tipo de abuso. Na produção, um casal decide qual filme assistir, quando o homem começa a tocar a mulher que, por sua vez, expressa sua recusa à relação sexual naquele momento. De imediato, o parceiro a questiona se ainda é amado. Após a resposta, volta para a cama e inicia o sexo, sem sequer olhar o rosto de sua parceira. Ao fim, ele chega ao orgasmo e ela permanece inerte, quase sem compreender a situação e num estado de possível repulsa.
A produção, realizada e interpretada por Chloé Fontaine, usa da intertextualidade durante a escolha do filme, quando o homem propõe assistir ‘Irreversível’, produção polêmica cuja protagonista, Monica Belluci, viveu uma cena de estupro explícito. Desde a postagem do vídeo nas redes, o assunto tem recebido maior repercussão.
A naturalização do sexo sem consentimento numa relação amorosa pré-estabelecida é uma problemática real e deve, dentro ou fora do namoro/casamento/casualidade, ser discutida. Identificar a prática abusiva é o primeiro passo para se livrar dela e, com ou sem aliança, ‘não’ permanece sendo ‘não’ e isso deve ser respeitado.