Camila Rocha é profissional da dança, atuação e performance, preparadora corporal e diretora de movimento, professora e pesquisadora da dança. E é assim mesmo que ela própria se denomina. Sabe aquela história de ter que ser muito bom só numa coisa? Esquece. Não dá nem pra imaginar o trabalho que dá pra uma família preta – porque a gente sabe que nunca anda só e isso tem vários significados – construir esse nível de confiança em uma menina e uma mulher preta. E Camila parece ser bem consciente disso e já veio dizendo (ou mostrando) que não está aqui pra fazer nenhum trabalho medíocre, não.
Camila Rocha
Nascida e criada na Rocinha e atualmente moradora do Itanhangá, Camila tem a dança no DNA: é filha de uma ex-passista com um músico e neta de uma baiana de escolas de samba. “Posso dizer que nasci pulsando arte e no caminho me descobri artista e assim sigo me afirmando, descobrindo e redescobrindo. Aos seis anos comecei a fazer balé, jazz e dança afro na Rocinha. Mas, meus primeiros passos físicos na arte foram em apresentações de dança e teatrinho da escola, onde inclusive ganhei minha primeira bolsa de dança em uma escola de balé clássico em Copacabana e, desde então, sigo entre os percursos da dança, atuação e performance”, pontua.
Agora, aquele papo de que, se você é prete, precisa ser duas vezes melhor pra conseguir a metade parece estar presente na trajetória de Camila. Quer dizer, talvez não esteja, mas o fato é que ela é realmente multitalentosa.
Graduanda em Dança na UFRJ, o caminho artístico de Camila conta com os filmes “Uma paciência selvagem me trouxe até aqui“, de Érica Sarmet, ganhador do Festival Internacional Olhar de Cinema, e “Nada de bom acontece depois dos 30”, de Lucas Vasconcelos, que concorreu no Short Film Corner no 74th Festival de Cannes.
Cria do Nós do Morro, a atriz tem muito o que comemorar no novo ano. Além de sua estreia nas novelas como a estudante empoderada e autêntica Soraia em “Quanto Mais Vida, Melhor!”, Camila Rocha, de apenas 27 anos, integra o elenco de “Aos Nossos Filhos”, filme de Maria Medeiros cuja pré-estreia mundial acontece dia 25 de janeiro, no Cine Majesttic Bastille, em Paris, e no dia 02 de fevereiro a estreia comercial em toda França. Já no Brasil, a previsão é para abril.
Além disso, Camila participa de produções que causam de fato impacto social e reflexão, sem deixar de reconhecer a importância de seu trabalho para outras pessoas com as quais pode se identificar.
“Estou em festa por ter mais um filme que faço parte passando nos telões da França. Em ‘Aos nossos filhos’ tive o prazer de interpretar Jéssica, adolescente totalmente festiva que mora numa ONG de cuidados com crianças e adolescentes portadores do vírus HIV. Tive a honra de contracenar e dividir longas conversas e risadas no camarim com Marieta Severo, que faz a gestora da ONG, e com o maravilhoso Aldri Anunciação. Sigo vibrando com a nossa estreia lá fora, mas esperando o momento que ele chegue ao Brasil para que eu e os meus também possamos ver meu rosto e meu trabalho passando no telão do cinema”, torce Camila.
No teatro, como atriz integrou o elenco das peças “Corpo Minado” (pelo Grupo Atiro, da Maré); “As barras das tetas de minha mãe” (direção de Fátima Domingues e Guti Fraga) e “Dom Quixote de la Lapa” (direção de Miwa Yanagizawa), as duas últimas pelo trabalho com o grupo Nós do Morro. Como preparadora corporal e diretora de movimento integrou a equipe de “A parada é o caminho” (direção de Andrea Bordadagua e Rodrigo França), “A Protagonista” (direção de Juliana Rego e revisão de Miwa) do Coletivo Paralelas, e a peça virtual “Família”, dirigido por Wallace Lino, do Grupo Atiro. Como Coreógrafa fez o clipe “Avenida”, do grupo Braza.
Potência é a palavra que melhor traduz o desejo de Camila para seu caminho artístico multifacetado. “Não quero ter medo de ser grande. Me vejo uma artista com espaço, oportunidade e reconhecimento pelo meu trabalho. Isso está no campo do desejo que eu venho trabalhando sem desistir para que venha se tornar realidade. Eu sei o quão importante é, para mim, estar fazendo essa novela, assim como ver a representatividade que isso traz para meus mais novos, assim como meus mais velhos. Quero ser vista como atriz negra potente e profissional da dança, atuação e performance. Preparadora corporal e diretora de movimento, professora e pesquisadora da dança. Uma multiartista que sabe de onde veio e sabe onde quer chegar”, finaliza.