Na última sexta-feira (19), foi aberta a 21ª Mostra de Cinema de Tiradentes. O evento, produzido pela Universo Produções com Apoio do Ministério da Cultura, acontece até o dia 27 de janeiro sob o tema “chamado realista”, exibindo 102 filmes, além de debates, apresentações, intervenções artísticas dentre outras atividades. Nessa edição, que celebra ainda os 300 anos da cidade de Tiradentes, o troféu barroco na cerimônia de abertura foi entregue a Babu Santana, ator negro que interpreta quatro filmes da programação.
Babu Santana participou de mais de 20 longas-metragens durante sua carreira, além de curtas e novelas como Cidade de Deus (2002), Quase Dois Irmãos (2004) e Tim Maia (2014). Carregando toda experiência, o homenageado do festival se emocionou ao receber o prêmio: “Quando fui avisado desta homenagem achei até estranho. Meu Deus do céu, será que estão sabendo que vou morrer ou algo do tipo?”
Babu aproveitou a oportunidade para reivindicar a presença de negros e negros no cinema e na televisão:
“Nós temos vários Lázaros Ramos que ainda não tiveram oportunidade. Tem programa de televisão que levanta a questão do racismo e tem 80% do elenco branco. Não entendo. Aparece só o branco falando do racismo. Já teve diretor que não me deu papel em filme porque disse que não tinha personagem com o meu perfil. Perguntei a ele se não tinha homem na história”, declarou.
Glenda Nicácio, única mulher negra que dirige um longa na mostra (Café com Canela – 2017) – e que conta com Babu no elenco -, também levantou a ausência de representatividade negra no audiovisual: “Pois não existe [diretores negros na história do cinema brasileiro]. É um crime falar, porque nós temos por exemplo Adélia Sampaio, que agora está sendo rememorada. E nem digo rememorada. É memorada, porque até pouco tempo ela simplesmente não existia no cinema nacional. Falem o nome de diretores negros marcantes na história. Digam”.
Adélia Sampaio é inspiração a muitos outros diretores negros que buscam a representatividade em sua área de atuação. Em 1984, ela foi a primeira negra a dirigir no Brasil um longa-metragem (Amor Maldito – 1984).