No termo cunhado pela intelectual negra mineira Lélia Gonzalez ‘amefricanidade’ é a experiência comum de mulheres e homens negros na diáspora e à experiência de mulheres e homens indígenas contra a dominação colonial. O tema se refere às sabedorias e às experiências negras e indígenas no continente americano, se aproximando ao quilombismo de Abdias Nascimento.
O conceito de Lélia serve de livre inspiração, e as artes de Abdias disparam a iconografia do novo espetáculo do coletivo Legítima Defesa. AMÉFRICA: Em Três Atos, tem estreia e temporada no Teatro do Sesc Pompeia, de 18 de agosto a 18 de setembro de 2022 – quintas, sextas e sábados às 20h, e domingos às 18h. Os ingressos custam de R$ 12 a R$ 40.
A realização é do Coletivo Legítima Defesa e convidades e tem a direção de Eugênio Lima. No palco estão os integrantes do coletivo – Walter Balthazar, Luz Ribeiro, Jhonas Araújo, Gilberto Costa, Tatiana Rodrigues Ribeiro, Fernando Lufer, Nádia Bittencourt, Eugênio Lima, Luan Charles e Marcial Macome – além da atriz convidada Janaína Silva e da participação (em vídeo) de Hukena Yawanawa e Antônio Pitanga.
No espetáculo, o Coletivo Legítima Defesa elabora de forma poética e política as confluências negras e ameríndias e seus desdobramentos sociais e históricos no Brasil. As trajetórias negras e indígenas em diálogo e em confluências permitem criar alianças a partir de seus próprios legados, trazendo à tona narrativas soterradas pela herança colonial.
No dia 3 de setembro, das 16h às 18h, acontece uma Roda de Conversa Afropindorâmica (Confluência na Retomada), na Área de Convivência da unidade. Participam Cacique Babau, Antônio Nego Bispo, Tereza Onã e Agnaldo Pataxó Hã Hã Hãe, com a mediação de Eugênio Lima e Majoí Gongora.
Os Atos
Em três atos, AMÉFRICA tem uma narrativa fragmentada, porém complementar. O Ato 1: A Cicatriz Tatuada, que tem dramaturgia de Claudia Schapira, é um filme online que deverá ser visto previamente pelo espectador. O Ato 2: A Retomada, é uma peça-intervenção e foi escrita por Aldri Anunciação. O Ato 3: A Tempestade é assinado por Dione Carlos, e é uma intervenção performática, contra-narrativa, que une videoinstalação, música, dança, mixtape, teatro e performance.
Fazem parte da peça, ainda, intervenções em vídeo – com reproduções de falas de intelectuais e artistas, além de diálogos com outros artistas – como Jairo Pereira e Thereza Morena – e coletivos de teatro (Espiralar Encruza e O Bonde).
“A ideia de ‘Confluência na Retomada’ é a própria metáfora do espetáculo, nossa função é localizá-la num espaço onde se revelam as tensões da nossa sociedade, na qual negros e indígenas ainda lutam para escapar do genocídio e do racismo estrutural, procurando recuperar a dignidade e a liberdade num sistema colonial que se atualiza constantemente”, explica o diretor Eugenio Lima.
Este projeto foi contemplado pela 13ª Edição do Prêmio Zé Renato de apoio à produção e desenvolvimento da atividade teatral para a cidade de São Paulo – Secretaria Municipal de Cultura.
Roda de Conversa
No início de 2022, os curadores, Majoí Gongora e Eugênio Lima conversaram com convidados de diferentes gerações de lideranças e artistas ameríndios. Foram três painéis de discussão sobre as questões relacionadas às sabedorias e às experiências ameríndias e quilombolas no continente americano, com transmissão online – os vídeos podem ser vistos no canal do YouTube.
Os encontros inspiraram a dramaturgia cênica, trazendo à tona trajetórias negras e indígenas a partir de seus próprios legados. Assim, as rodas foram uma amostra de outros imaginários possíveis sobre as experiências negras e ameríndias no Brasil, revelando narrativas soterradas pela herança colonial.
Com a estreia da temporada de AMÉFRICA: Em Três Atos, o Legítima Defesa retoma a troca, desta vez presencial. O evento acontece no dia 3 de setembro, sábado, às 16h, no Sesc Pompeia – a entrada é livre.
Participam: Cacique Babau (liderança dos Tupinambá da Serra do Padeiro), Antônio Nêgo Bispo (morador do Quilombo do Saco-Curtume, no Piauí, uma das principais vozes do pensamento quilombola no Brasil), Tereza Onã (mulherista pan africana) e Agnaldo Pataxó Hã Hã Hãe (liderança indígena), com a mediação de Eugênio Lima e Majoí Gongora.
Sinopse
O espetáculo AMÉFRICA: Em Três Atos fundamenta-se em uma narrativa épica/ fantástica criada a partir de histórias diversas sobre personagens presentes nos levantes históricos, nas cosmovisões e nas narrativas negras e indígenas, incluindo as diferentes práticas rituais e literaturas orais existentes no país. A partir da noção de Amefricanidade, cunhada por Lélia Gonzalez, do Conceito-ação de Retomada, dos Tupinambás da Serra do Padeiro e do Conceito de Confluência, elaborado por Antônio “Nego Bispo”, serão feitos contrapontos aos personagens da história oficial colonial no continente americano.