Esse ano, o São Paulo Fashion Week ganhou destaque na visibilidade que o desfile causou na indústria da moda. Com o Projeto Sankofa, marcas cujos fundadores são negres tiveram a oportunidade de participar do evento na passarela pela primeira vez, além de receber uma grande mentoria sobre como a indústria funciona de pessoas que já estão nesse mercado há anos.
A Vogue britânica também fez, pela primeira vez, uma capa com 9 modelos africanas, como você conferiu aí em cima, no que parece ser uma afirmação em defesa da diversidade. Mas será que essas afirmações vão além das aparências? Com uma seleção de referências do mundo da moda, sugerimos algumas questões que podem servir como pauta para reflexão do tema.
Você consome de criadores negres?
É bonito defender a diversidade, mas até que ponto vai nossa preocupação? Na hora de comprar roupa, por exemplo, você compra roupas de criadores negres ou dá prioridade para lojas de departamento?
Não é sobre não comprar em lojas de departamento. É verdade que muitas vezes essas lojas têm roupas em tamanhos diversos ou ainda peças mais acessíveis – apesar de muitas vezes isso acontecer por envolvimento com formas de trabalho análogas ao trabalho escravo, ou seja, trabalho não remunerado -, mas como bem nos lembrou Emicida em sua participação no Roda Viva, às vezes a gente vai comprar de uma empresa pequena que faz tudo o que pode para garantir boas condições de trabalho a todas as pessoas envolvidas na cadeia de produção e acha a peça cara. Mas quando uma peça muito parecida é produzida em larga escala por outra empresa e vendida por um preço muito parecido – se não maior – a gente acha que tá tudo bem.
Brandice Daniel, que não é nova no mercado da moda, relembra que quando começou seu negócio, a Harlem Fashion Row, sonhava com o dia em que poderia pagar pelas pelas de designers por quem ela torcia muito. Hoje ela faz questão de dizer que não tem um dia em que ela saia na rua sem vestir alguma coisa feita por uma pessoa negra.
Se estiver precisando de uma recomendação, Carla Stela, por exemplo, é criadora e faz produção de moda e de vez em quando compartilha seus processos nas redes.
A diversidade está na indústria da moda ou na passarela?
Brandice também relembra que não há, por exemplo, uma pessoa negra na lista dos Fortune 500 que seja relacionada ao ramo da moda. Na página principal de seu negócio no Instagram, a primeira mensagem que vemos é “te apresentando a designers multiculturais. Apoie-os. Menos de 1% dos designers vendidos em grandes lojas de departamento são pessoas de cor.”
Então, de novo, lojas de departamento hoje em dia são uma ótima forma de conhecer criadores negres. A própria Lab Fantasma já fez essa parceria e hoje a C&A tem coleções cápsulas com alguns deles. Mas que tal também conhecer a marca de modo mais amplo? Que tal apoiar as pessoas por trás destes negócios para além do lucro reservado às lojas de departamento?
Muitas das criadoras entrevistadas pelo BET falaram sobre como, apesar de a indústria da moda ser majoritariamente feminina, os grandes cargos e até os donos de grandes marcas continuam sendo do gênero masculino.
As marcas de quem você consome dão voz à diversidade?
É bonito falar em diversidade, mas, de acordo com a pesquisadora e palestrante Janet Stovall, as minorias só começam a ser ouvidas no ambiente de trabalho quando representam no mínimo 30% do contigente geral.
Você já se perguntou quantas pessoas pretas ocupam posições de liderança das marcas que você consome? Para Marlo Hampton, “inclusão vai além de permitir que pessoas ‘diversas’ ocupem espaços. Também é preciso que elas tenham permissão para falar com a garantia de que serão ouvidas”.