As palavras honestas de Carolina deram voz a uma realidade esquecida e até hoje a escritora é lembrada como um marco na literatura nacional.
Carolina Maria de Jesus é um símbolo da cultura e da história do Brasil. Uma mulher negra, pobre, catadora de papel e filha de analfabetos, que encontrou nas palavras uma forma de denunciar as injustiças tão normalizadas no nosso país. A escritora nasceu na cidade de Sacramento, Minas Gerais, em uma comunidade rural, no dia 14 de março de 1914. Em virtude da sua condição social, ela foi privada de uma educação e frequentou a escola por pouco tempo, mas o bastante para aprender a ler e a escrever, além de descobrir o gosto pela leitura.
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Após a morte de sua mãe, Carolina decidiu se mudar para São Paulo. Foi aos 33 anos, grávida e desempregada, que ela começou a catar papel para sobreviver. Nas horas vagas, gostava de relatar o seu dia em um diário: com sensibilidade, a escritora fazia críticas políticas, sonhava com um futuro melhor. O compilado dos relatos formaram um dos livros considerados um clássico da literatura moderna, “O Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada.” Publicado em 1960, a obra já foi vendida em 40 países traduzida para 16 idiomas.
Com o sucesso do primeiro livro, Carolina consegui sair da favela e se estabelecer em um local melhor. Três anos depois ela publicou mais duas obras, sendo o romance “Pedaços de Fome” e “Provérbios”. A escritora teve três filhos e os criou com o dinheiro da reciclagem. Ela faleceu em 1977, aos 62 anos de idade e, depois de sua morte, outras seis obras foram publicadas. Em 2017, sua história foi retratada por Tom Farias em “Carolina – Uma Biografia”, da editora Malê.
O “Quarto de Despejo” é considerado um livro revolucionário para literatura brasileira, pois é a primeira vez em que a favela ganha voz, além de retratar um problema que continua atual no nosso país, a fome. É difícil discutir sobre algumas conquistas e querer engajamento da população quando mais de 40 milhões de brasileiros vivem uma situação denominada de insegurança alimentar – o que prova que, mesmo depois de 60 anos da publicação do livro, pouca coisa mudou na realidade do nosso país.
Carolina retratou a realidade sem mascarar seus sentimentos e atualmente se tornou referência em ambientes acadêmicos, que ela mesma nunca teve a chance de frequentar. “Escrevo a miséria e a vida infausta dos favelados. Eu era revoltada, não acreditava em ninguém. Odiava os políticos e os patrões, porque o meu sonho era escrever e o pobre não pode ter ideal nobre. Eu sabia que ia angariar inimigos, porque ninguém está habituado a esse tipo de literatura. Seja o que Deus quiser. Eu escrevi a realidade.” Citação do livro “O Quarto de Despejo”.
Recentemente o Diáspora Black divulgou um curso online, entre os dias 18 e 20 de agosto, para debater a atualidade da obra da escritora, com a presença de Tom Farias.