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terça-feira, 03 outubro 2023
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“Não é um paraíso” denuncia realidade dos negros nos EUA

Foto: Reprodução/Youtube
Foto: Reprodução/Youtube

Se você tem mania de pensar que a grama do vizinho é sempre mais verde, é bom perguntar a ele antes. É mais ou menos isso o que o artista Bixop quer transmitir em seu trabalho recém lançado, “Não é um paraíso”. No Brasil, a visão construída pelos filmes norte-americanos revela um Estados Unidos da América repleto de riquezas: bons carros, grandes casas, bonitos jardins, muita oportunidade e consequentemente ostentação. No entanto, não é essa a imagem real do lugar onde cresceu o norte-americano Bixop.

De acordo com o cantor, que se apaixonou pelo rap nacional brasileiro e hoje vive em São Paulo, o sonho americano que assistimos daqui, os norte-americanos negros e pobres também assistem de lá. Mas só assistem, não fazem parte. Por mais incrível que pareça, Bixop encontrou na periferia verde e amarela um lugar melhor ou igual aos guetos do país mais influente do mundo.

“Eu ouvi muito Sabotage nestes últimos 3 anos e ele é um dos meus favoritos do mundo inteiro. Nas suas rimas ele falou tanto do Brooklin que eu pensei que fosse mais ou menos igual ao nosso Brooklin… E quando eu cheguei aqui em São Paulo eu estava tão empolgado! Eu queria ver esse lugar que ele tanto falava. Mas o que eu vi foi uma região que parecia ter uma infraestrutura melhor, com muitos tipos de serviços, bem diferente de qualquer outro lugar que eu já vivenciei. Depois eu vi as comunidades. Caminhando, eu vi as favelas, inclusive a favela do Canão. As letras do Sabota estavam na minha cabeça… só pude perceber com os olhos o que ele se referia. Mas observando o bairro em si, pela sua aparência, dá pra se pensar que em Brooklin Paulista é mil maravilhas. EUA é mais ou menos assim, aparenta ser o que não é.”

O clipe “Não é um paraíso” reúne imagens para dar ao espectador a visão real dos guetos nos Estados Unidos. Segundo o rapper, apesar da imagem de poder, riqueza e auto-suficiência, a realidade de muitos é “uma luta do dia a dia para sobreviver”. Assim como no Brasil, há uma parcela da sociedade que vive no conforto, enquanto outra sofre cotidianamente. Além disso, Bixop relata ainda que a divisão racial se acentua a cada dia e as violências são diversas: “atos aleatórios de violência, ataques terroristas, água envenenada na maioria das regiões negras, como Flint Michigan, prisões industrializadas onde homens negros são presos em massa para fornecer um sistema capitalista com mão-de-obra barata que enriquece o Estado”.

O homem alto e de pele negra, que aprendeu português sozinho graças ao amor por Racionais Mc’s, Facção Central e RZO, lembra ainda a agressividade do sistema de segregação racial nos Estados Unidos, onde existem, ainda hoje, cidades em que só habitam brancos ou cidades em que só habitam negros. No segundo caso, as regiões são as mais pobres, sem infra-estrutura adequada e com sistema precário de educação.

Aliás, Bixop diz mais sobre a educação norte-americana: “Muitos brasileiros me dizem que os E.U.A. têm as melhores escolas. E isso pode ser verdade, mas o método de educação dos Estados Unidos prejudica a maioria das crianças pobres. Quem fala é alguém que se formou no sistema de ensino público e trabalhou no setor educacional até 2016. Tenho visto crianças vindo de todos os países: Colômbia, Brasil, Haiti, Jamaica, México, muitos se surpreendem ao ver o quão atrasados estamos em nossas escolas públicas. O que as crianças aprendem aos 7 anos de idade nos países menos desenvolvidos, os pobres norte-americanos aprendem com 8 ou 9 anos. O ensino escasso juntamente com o imenso lucro feito com a privatização do sistema prisional dos Estados Unidos dificulta a juventude negra a sobreviver no gueto”.

 

É por isso que vale a pena ouvir o que Bixop tem a falar em “Não é um paraíso”, a primeira música cantada totalmente em língua portuguesa de quem não apenas sobrevive à marginalização norte-americana, mas também à brasileira, reconhecendo e denunciando as diferenças de dois sistemas excludentes. “Bixop é só mais um marginal radical e isso não passa nos filmes”.

Confira:

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