Nos últimos dias, uma polêmica envolvendo a atriz Cris Vianna e a diretora Maria de Médicis foi veiculada em diversos canais de notícia. Foi distorcido, principalmente pelos sites de entretenimento, o contexto em que se deu o discurso de Maria sobre chamar Cris de preta ou de negra. Em geral, a mensagem recebeu conotação racista e a resposta da artista teria sido pauta como forma de rebater ‘com classe’ o preconceito racial.
No entanto, não foi considerado que graças às questões de identidade mal resolvidas no Brasil, onde índio, europeu e africano constituem a base étnica, além da ausência de história negra nas escolas, o autoconhecimento sobre a negritude é gerado ao longo da vida, tanto para o negro quanto para o branco. Nesse contexto, o diálogo se dá como maior forma de explicação sobre as demandas da população negra.
Era justamente o que acontecia entre a atriz e a diretora. As expressões ‘negro’ ou ‘preto’ geram polêmica inclusive entre a parcela a que as palavras se referem. Portanto, ao público branco não seria diferente. Quando Maria de Médicis questionou a forma de se referir à Cris Vianna, ela não queria nada além que compreender as terminologias que fazem jus à identidade dos 54% da população brasileira. De maneira didática, a atriz quis dizer que não importava o termo, importava mesmo saber quem ela é, pelo nome. Devido à distorção dos fatos, Cris Vianna publicou uma nota sobre o ocorrido:
“Esse diálogo faz parte de uma conversa entre amigas que se respeitam e se admiram. Uma conversa sempre pautada pelo respeito, pela amizade e pela busca de informações corretas, com propriedade e principalmente com caráter didático. Questionada respeitosamente, pela querida diretora Maria de Medicis sobre como eu espero que as pessoas de dirijam a mim, respondi tão prontamente com total conhecimento de causa, que prefiro ser chamada pelo meu nome. Qualquer interpretação além disso, não traduz a intenção, o carinho, nem a real sororidade daquele momento. Maria de Médicis é uma das mais respeitosas diretoras da Rede Globo. A qual eu admiro e tenho a certeza da reciprocidade. Respeitar para ser respeitada”.
A dúvida de Maria de Médicis em muito se assemelha às dúvidas que muitas pessoas têm, sejam elas brancas ou negras, principalmente devido às diferentes terminologias utilizadas, de acordo com os espaços geográficos. Nos Estados Unidos, por exemplo, é preto. No Brasil, algumas pessoas consideram ‘preto’ ofensa e preferem ser chamadas de negras. A militância brasileira, por sua vez, na maior parte prefere o termo ‘preto’, já que negro se refere ao negativo. Portanto, vale pensar nos contextos dos discursos, das terminologias, das vivências, dos racismos.