Recebi a notícia de um novo comercial da Pantene feito só com mulheres negras com surpresa e alegria. Trata-se de uma nova linha de produtos para cabelos de afro-americanas. Pensei ‘agora sim, representadas em mais uma das maiores marcas de cosméticos do mundo’. Abrimos o vídeo aqui no escritório do TNM e começamos a assistir todos juntos. As imagens são fantásticas, mulheres negras com diferentes tipos de cabelo, diferentes tons de pele, diferentes jeitos e traços, inclusive crianças e uma idosa. Não tinha preta gorda. Não sei se todas eram cis. Mas foi então que, num segundo momento começamos a pensar: peraí, “Strong is beautiful?”. Será que só o cabelo que é forte ou eles estão falando da mulher negra nesse lugar de mulher forte. Eles estão nos colocando para sermos representadas pela mídia que sempre nos invisibiliza ou estão reforçando o estereótipo de que somos mulheres fortes e aguentamos todas as violências que nos imputam?
Pois então, era só o que faltava. Ativei as legendas automáticas do youtube para ler o inglês para facilitar a vida da não tão poliglota aqui. A narração fala sobre nascer orgulhosa dos cabelos que crescem na tempestade e não se conformam ao padrão de beleza que não é nosso. Fala sobre as muitas coisas erradas que dizem sobre como eles crescem da nossa cabeça e que o pensamento de que belos são apenas ondulados é loucura. Por fim, o texto termina dizendo que “se nós escolhemos usá-los relaxados ou naturais, todo fio é testemunha da nossa história que nos faz mais fortes… e forte é bonito!” (tradução livre).
Quando chegou aí, compartilhei minha inquietação com as colegas de trabalho da redação e concordamos de que é bem complicado exaltar que nossa história nos fez mais fortes. Sim é uma verdade, mas talvez não haja motivos para comemorarmos essa realidade. Somos mais fortes porque precisamos trabalhar muito mais para ganhar o mesmo que uma mulher branca? Somos mais fortes porque os médicos do SUS economizam na anestesia quando o parto é de uma mulher negra? Somos mais fortes porque somos preteridas como companheiras e deixamos de contar com os parceiros? Que história é essa que nos fez mais fortes? Será que é assim que queremos continuar a ser vistas? E como podemos questionar esse lugar sem que nos apontem como vitimistas. Quero sim ser representada na publicidade. Mas precisamos pensar bem sobre o lugar social que essas campanhas reproduzem.
https://www.youtube.com/watch?v=uwc4s8nVba4