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terça-feira, 03 outubro 2023
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Hoje é Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina

Foto: Reprodução/dailymail.co.uk
Lâmina usada para mutilação genital. Foto: Reprodução/dailymail.co.uk

Deita no chão. Abre as pernas. Sente o frio da lâmina. Chora a dor do corte. Pressente a dor da agulha que costura ponto a ponto o que antes era clitóris. Dói ser mulher. Desde o corte, até a costura. Genitália mutilada.

Às vezes, doze. Talvez, dez. Quem sabe, cinco anos. A transição de menina para mulher pode acontecer a qualquer momento. Depende do povo. Dizem mesmo que mulher amadurece mais cedo. Por isso? Melhor não ser madura. Melhor não crescer.

Geralmente, uma mulher carrega a lâmina. Alguma que também já sentiu a dor. Agora já velha, por tradição, faz que outras meninas novas passem pelo mesmo. Quase sempre, sofrem em grupo. São levadas juntas. Cortadas uma a uma. Lábios vaginais ou clitóris. Pode ser parte do órgão sexual ou pode ser ele todo. Depois da costura com pontos ou espinhos, fica apenas uma abertura para urina e menstruação. O procedimento é chamado infibulação. 

Há quem resista. Mas a advertência é dura e vem da própria família. Geralmente, mais agressões. As meninas precisam se tornar mulheres, defendem os antigos. Só assim encontrarão bons homens, afinal os órgãos femininos são impuros, diz a tradição. Justificam a dor de agora diminuir a dor durante o casamento: sem clitóris, o risco de traição é diminuído.

A prática causa infecções crônicas, sangramento intermitente, dores durante as relações sexuais, infertilidade, danos aos rins, ansiedade, medo, vergonha, revolta e humilhação nas mulheres mutiladas. Isso quando permanecem vivas durante o procedimento cirúrgico realizado, geralmente, com qualquer velho objeto cortante e ervas para os ferimentos.

Foto: Reprodução/Associated Press
Faca e ervas usadas na mutilação. Foto: Reprodução/Associated Press

A mutilação genital feminina acontece majoritariamente na África e no Oriente Médio. Ásia, Europa, América do Norte e Austrália também concentram casos. No mundo, são mais de 150 milhões de mulheres mutiladas. O número diz respeito apenas às que sobreviveram. Muitas não suportaram a dor do crescimento. De acordo com a ONU, até 2030 mais de 80 milhões de meninas podem ainda sentir a frieza da lâmina em seus órgãos genitais.

Choram. Gritam. Morrem. Dos lugares mais remotos aos mais conhecidos. O ápice da dor não torna uma menina mulher. As consequências físicas podem ser diminuídas: o clitóris pode ser reposicionado através de cirurgia e as estruturas externas reconstruídas com partes de pele. Nem toda mulher recupera o psicológico. Nem toda mulher consegue assistência para cirurgia. Nem toda mulher sente as consequências da mutilação. Afinal, algumas mal abrem os olhos após o procedimento: morrem durante a transição.

Por isso, a ONU se mobiliza para estabelecer o fim da prática da mutilação genital, uma das faces da violência contra a mulher. Uma das ações é a instituição do dia 6 de fevereiro como o Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina.

Foto: Reprodução/dailymail.co.uk
Meninas durante o ritual de mutilação genital. Foto: Reprodução/dailymail.co.uk

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