Tommy Hilfiger já esteve envolvido em outras polêmicas que de alguma forma envolviam pessoas negras. No passado, ele foi acusado de dizer que não queria que minorias usassem as roupas de sua marca. Na época, ele foi acusado de ir ao programa da Oprah e reiterar o que teria dito anteriormente. No entanto, de acordo com uma participação real no programa da empresária e apresentadora, ele teria dito que nunca disse isso e que nunca havia participado do talk show antes.
Dessa vez, a questão é um pouquinho diferente e tem a ver com uma ação com a qual a branquitude já está bastante habituada: apropriação. Em entrevista ao HypeBeast, Hilfiger teria se autodeclarado o primeiro designer da moda de rua. Sim, isso mesmo. Ninguém veio antes dele, o inovador.
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Tommy Hilfiger: o anfitrião da moda de rua?
A questão não é nem a marca ser ou não ligada à moda de rua. Apesar de não ser tão fácil identificar essa ligação só de bater o olho no dono da marca, os macacões dos anos 90 ganharam grande destaque com nomes como Destiny’s Child e Aaliyah. Hoje, são relíquias da moda (mas o Tenho Uns Panos andou resgatando algumas unidades, hein).
A questão é a coragem, mas também a necessidade da branquitude se autoafirmarem pioneiros de algo sem sequer pesquisar minimamente antes de dizer: “eu acredito ter sido o primeiro designer a fazer moda de rua”.
April Walker, criadora, pioneira no conceito de moda urbana, e, como ela mesma define, uma rebelde necessária, já logo lançou um ‘como é que é?’ e se referiu ao caso como audácia (porque é, né?)
Hilfiger usou como outras referências da moda marcas como a Gucci ao invés de reverenciar artistas e marcas negras e ainda teria descrito a si mesmo numa expressão próxima a de um vanguardista da moda porque enquanto marcas começaram a pensar em inclusão e diversidade agora, essa já era uma preocupaçã ode sua marca há anos.
A retratação
Numa tentativa infeliz de retratação, Hilfiger teria dito:
“Muito antes de ser estabelecido como norma, eu sabia que queria que nossa marca se conectasse e colaborasse com as pessoas que estavam criando e fazendo curadoria de cultura pop naquele momento. Nos anos 90, eu vi a tendência da moda de rua emergindo de uma maneira incrível com pioneiros como Stüssy e Dapper Dan abrindo caminhos. Inspirado por seus estilos, e por nome relacionamento precoce com artistas do hip-hop Grand Puba, Snoop Dogg e Aaliyah,nossa conexão e envolvimento com a moda de rua se tornaram parte integral da história da marca e no DNA que continua hoje […]”
Muito louco o quanto esse discurso se parece com outros discursos da branquitude, não é mesmo? Hello Beautiful nos faz refletir incusive sobre o quão semelhante esse discurso está daquele seu amigue racista que tenta se justificar falando que tem amigos negres, sabe?
Muito interessante também é pensar no momento em que esse discurso ganha voz: aqui no Brasil, no início da semana, um artista negro, Ícaro Silva, disse, entre outras coisas, que considerava o Big Brother Brasil uma produção medíocre.
Entre alguns que se apegaram à semântica de Ícaro e enfatizaram que a palavra ‘medíocre’ nem é tão ruim assim, só significa mediana, uma reflexão interessante acerca do assunto é o quanto a branquitude não dá um dia de “sossego” (e é engraçado porque essa foi justamente a palavra usada por um dos profissionais brancos que questionaram a atitude de Ícaro). Como se não bastasse a falta de sossego do Estado e de seus aparelhos de controle.