Quando eu era criança, não tinha MC Soffia. Meu grupo favorito era Spice Girls. Não porque eu acompanhasse as músicas, nem porque eu entendesse as mensagens. Só porque no meio de um monte de mulher branca, tinha uma mulher preta. Minha prima Tamara, que é um pouco mais velha que eu, ouvia muito o CD das Spice Girls (porque, né, era época de CD) e eu lembro que, quando o grupo começou a se desfazer, eu só perguntava “Quem saiu? Foi a preta?”
Mas era uma identificação que não me representava muito. Até porque eu nem entendia o que elas falavam (e, depois, quando passei a entender, vi que não tinha muito além de vida amorosa). Por isso, desde a minha primeira sobrinha, entre trilhas sonoras de Moana, Frozen e Palavra Cantada, a gente sempre ouvia MC Soffia.
Depois esse amor foi crescendo tanto neles e em mim que a gente passava tardes dançando “Menina Pretinha” nas férias ou cantando que “ser criança é muito bom”. Nós até fomos em um show dela no Sesc Bom Retiro (aliás, fica aqui que a gente vai anunciar outro show já já). Eles piraram! Dançaram, abraçaram. A vó dela também estava lá, então compramos bonecas Makena e pentes garfo pra eles também. Aí sim eu pude ver uma identificação real: uma menina preta falando sobre as belezas de ser preta e conscientizando outras crianças. Sabe aquele papo do Emicida com a Adriana Couto sobre se descobrir negro através de potencialidades? É isso.
MC Soffia apresenta o estilo da quebrada na revista ELLE
MC Soffia
Soffia Gomes da Rocha Gregório Correia, mais conhecida como MC Soffia, é conhecida pelas letras de suas canções. Nelas, ela fala sobre distorções sociais graves, como preconceito, racismo, machismo e incentiva outras garotas a se amarem e se respeitarem. Começou sua carreira aos seis anos, logo após participar do projeto “O Futuro do Hip Hop”. A rapper já se apresentou em grandes eventos, como a Virada Cultural de São Paulo e o Festival Afro-Latinidades, em Brasília, Feira Preta, foi indicada no BET Awards 2018 na categoria Artista Revelação Internacional, gravou o single “É o Hype” nos estúdios da VEVO em New York, gravou feat com Madame Gandhi (EUA) e Drik Barbosa, Dancing Brasil Júnior, esteve em diversos programas de TV nacionais, recebeu prêmios de revistas nacionais de grande circulação, está em livros didáticos e jornais, realizou shows em várias unidades do SESC e gravou clipes com artistas em destaque no cenário nacional.
Cantando desde pequena, é lindo observar o processo de transformação de suas letras, da infância à juventude e sempre carregada de militância, ideais e valores que ela compartilha com a família. Desde cedo, MC Soffia já participava de marchas antirracistas e feministas, apoiando a luta LGBTQIA+, ocupações de estudantes lutando por direito à educação digna, entrevistas nacionais e internacionais com posicionamento sobre o direito à vida das meninas. Seu compromisso é tão intenso que suas letras já foram usadas para discussões na educação formal, em salas de aula.
Por isso, a celebração de seus 10 anos de carreira não poderiam passar batido. A partir do dia 22 de fevereiro, data em que a rapper completa 17 anos, vai ter chuva de lives! Serão diversos shows, compartilhados no YouTube e no Facebook, sempre a partir da 20h. Para deixar os shows mais especiais, a rapper recebe convidados conhecidos pelo público como Dereck, Onnika, NGKS e jovens meninas negras que conheceu em seu projeto Ocupa Preetenha. As lives serão em Chroma Key com composição virtual em 3D de cenários imersivos.
10 anos de MC Soffia
Assim como sua mãe, Kamilah Pimentel, que é também sua empresária, MC Soffia participa de cada detalhe de sua carreira. Foi ela quem escolheu os temas de cada show. Quem acompanha suas redes sociais já sabe então que rap, trap e funk não vão faltar, mas para os fãs mais antigos, ela também promete que não vão faltar as canções já clássicas como “Menina Pretinha” e “Minha Rapunzel Tem Dread”.
MC Soffia está mais consciente do que muitos artistas de longa data, em especial neste momento de pandemia. Em declaração sobre os shows, ela disse: “Estou cheia de ideias para os shows, cenários virtuais em 3D. E o que mais me emociona são as novas tendências tecnológicas. Junto com a produtora e diretora Erotides Nai, pensamos em mil possibilidades de imagens e movimentos, [tudo] muito colorido e ritmo dançante, as músicas como sempre com letras de mensagem, para ajudar a abrir os olhos da juventude negra em especial. Estou super feliz em realizar esses shows principalmente porque esse ano completo 10 anos de carreira, que começou no Projeto Futuro do Hip Hop da Dj Vivian Marques e de lá pra cá muita coisa legal aconteceu comigo. Conheci pessoas maravilhosas, sou inspiração, ganhei prêmios nacionais e internacionais, cantei em saraus, aprendi muito e desejo melhorar cada vez mais. Meus fãs merecem o melhor, sou grata pelo carinho, por isso pretendo comemorar muito, mas tudo remoto por conta do Covid19.” diz a rapper.
Programação
“Com o apoio da Lei Aldir Blanc, faremos as lives/shows em alto nível de apresentação, com projeções em 3D, produzido pela produtora ERO, presença de jovens artistas, convidados especiais, uma equipe potente em diversas funções para fazer os shows acontecerem lindamente. Porque a Mc Soffia acredita que é preciso estar em rede, as lives serão umas das homenagens de 10 anos de carreira, que mesmo iniciando muito jovem, nunca parou, desenvolveu habilidades de escrever suas letras a partir de temas essenciais na sociedade atual, está aprimorando sua performance em palco, participa ativamente da criação de seus clipes, tem suas letras em livros didáticos, mas temos projeto de lançamento de singles e clipes e um mini documentário. A Soffia está no caminho de se tornar multiartista.” relata Kamilah Pimentel, empresária.
Programação/Convidados
22/02 – Mc Soffia:10 anos de carreira – Nicole e Mariana
01/03 – Amor Próprio – Mano Felps e Kemelly
08/03 – Mulheres do Trap – Onnika e Luanna
15/03 – Black Kids – Negra Rosa e Catarina
22/03 – Trapzada – Derek
29/03 – Bailão Funk – NGKS
O projeto conta com apoio financeiro da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, Governo Federal, no Prêmio Produção de Música da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, ProAC.