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terça-feira, 03 outubro 2023
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Os limites raciais do mundo da fantasia

A ficção é onde tudo pode acontecer e a literatura é a personificação do lúdico. Se pode tudo, por que não pode o protagonismo não-branco?

 A leitura é uma arma poderosa, incentiva a imaginação e a criatividade, além de educar com um toque lúdico. Quem lê, aprende a escrever e compreender o mundo de forma diferente. Porém existe uma constância na maioria dos livros de fantasias que são produzidos para o público infantojuvenil, quase sempre, ou então sempre, os personagens são brancos. Na famosa trilogia Jogos Vorazes, a personagem principal Katniss Everdeen foi descrita com a pele cor de oliva, cabelos escuros e olhos cinzas, assim como seu pai e outros moradores do Distrito 12, um local extremante pobre. As questões raciais estão subentendidas no livro, mas são apagadas na adaptação cinematográfica, afinal a atriz escolhida para interpretar Katniss foi Jennifer Lawrence, uma mulher branca de olhos claros.

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Jennifer teve uma ótima atuação, mas por que não escalar alguém de cor para o papel? E por que é tão difícil encontrar personagens não-brancos em livros infanto-juvenis? Quando se analisa algumas dessas obras, logo se encontra a falta de personagens com etnias e cores diversas. Não basta aguçar a imaginação dos jovens, é preciso uma representatividade e uma escrita que saia da bolha de um mundo feito por brancos e para brancos, sendo necessário deixar bem claro a descrição do personagem.

Temos algumas obras com protagonistas não-brancos e, até o momento, nenhuma delas foi adaptada para as telonas. Children of Blood and Bone, escrito por Tomi Adeyemi, que além de ter diversos personagens negros, inclusive as duas principais – Zélie e Amari – o livro é inspirado em mitologias do oeste africano. Ainda falando de obras que saem do eixo americano e europeu, podemos citar A Rebelde do Deserto, ambientado nas Arábias com uma personagem feminina muito forte e composto praticamente por pessoas de cor. Recentemente os diretos da trilogia foram comprados pela produtora da Willow Smith, então é uma esperança que talvez possamos ver uma adaptação mais fiel.

Além desses, tem vários outros como Jovens de Elite; Winter da série Crônicas Lunares – que, por sinal, mistura vários elementos das histórias de contos de fada e Rainha Vermelha, com a personagem Mare Barrow. Muitas vezes que a adaptação desta obra entra em pauta, alguns pedem para que atrizes brancas  a interpretem, o que seria um erro e um descaso com a história.

Essas leituras são de extrema importância, principalmente para um público mais juvenil, que precisa ser representado dentro da fantasia e até mesmo se inspirar na garra e força dos personagens para lidar com as adversidades do mundo. Para crianças e jovens  pretos e pretas, essa carga é ainda maior pois quem não quer se ver em algo mágico? Que possamos ler e assistir mais gente de cor e que autores e autoras também possam descrever sem medo um personagem negro.

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