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terça-feira, 03 outubro 2023
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A luta contra o apagamento histórico do trabalho de Tebas

Tebas, homem negro e escravizado, foi um dos nomes por trás das grandes construções paulistanas, mesmo assim seu reconhecimento só aconteceu há pouco tempo.

Joaquim Pinto de Oliveira (1721-1811), mais conhecido como Tebas, nasceu na Vila de Santos e foi levado para capital paulista por um mestre-pedreiro português, Bento de Oliveira Lima, que na época era seu dono e de sua esposa, Antônia Maria Pinta. Até pouco tempo atrás a história de Tebas era tida como um mito: o escravo que marcou a história da arquitetura da grande São Paulo foi apagado dos registros, como uma forma de tentar tirar a conquista do homem por trás das obras mais reconhecidas. O seu trabalho contempla a Igreja da Ordem 3ª do Carmo, da Igreja das Chagas do Seráfico Pai São Francisco e a antiga Matriz da Sé.

Antiga Matriz da Sé

Tebas aperfeiçoou seu ofício que consistia em talhar blocos de rocha bruta para a construção e suas construções foram feitas a partir da taipa, técnica que utiliza o barro como molde. Não se sabe muito sobre a alforria do arquiteto; alguns acreditam que tenha acontecido entre os anos de 1777 e 1778, porém não há confirmações por conta da perda dos documentos.

O Chafariz da Misericórdia é considerado um dos trabalhos mais expressivos de Tebas, até mesmo pela sua simbologia e por ser o primeiro chafariz público da cidade. Ela foi erguida quando o arquiteto já era um homem livre e foi projetada com um sistema que canalizava as águas do ribeirão Anhangabaú. Era ali que escravizados se reuniam para buscar água e abastecer as casas de seus senhores. Infelizmente, o chafariz foi demolido em 1866.

Chafariz da Misericórdia. Imagem de José Whasth Rodrigues, (1871-1957)

Alguns relatos apontam que Tebas era um homem conhecido pelo centro da cidade, tanto que seu nome se tornou uma expressão para denominar alguém que tinha talentos e sabia fazer de tudo um pouco. “Fulano é um Tebas” era um elogio. Em 2019, o jornalista e escritor Abílio Ferreira, em parceria com outros pesquisadores, lançou o livro “Tebas, um negro arquiteto na São Paulo escravocrata”, como uma forma de resgatar a história e o trabalho deste grande homem. O livro está disponível gratuitamente no site do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo: https://www.causp.gov.br/wp-content/uploads/2016/03/Livro-Tebas.pdf

O arquiteto faleceu em 11 de janeiro de 1811, aos 90 anos e foi sepultado na Igreja de São Gonçalo, localizada na Praça João Mendes, centro de São Paulo. Em 1974 o cantor e compositor Geraldo Filme transformou essa história em um samba enredo, “Tebas, negro escravo. Profissão: Alvenaria. Construiu a velha Sé em troca da carta de alforria”, que também buscava trazer luz e reconhecimento ao trabalho do homem que mudou a arquitetura de São Paulo.

Somente em 2018 o Sindicato dos Arquitetos no Estado de São Paulo (SASP) o homenageou, reconhecendo seu talento e profissão.

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