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terça-feira, 03 outubro 2023
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A representação da cor dentro da cultura

Do blackface ao apagamento histórico: as violências da representação negra na cultura

O embranquecimento de figuras históricas já é uma prática conhecida. Um grande exemplo é a imagem de Jesus, um homem nascido no Oriente Médio que peregrinou pelos desertos em uma região onde os traços étnicos são fortes e diferentes dos padrões europeus e mesmo assim ele é representado por um homem branco, algumas vezes loiro, de olhos claros. Esse é o exemplo mais antigo e emblemático da nossa sociedade, onde o grande Salvador da humanidade é um símbolo de perfeição que retrata um padrão.

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Mas não para por aí. Ao longo dos anos, muitos autores da literatura brasileira e outros precursores da cultura tiveram sua cor adulterada, tudo para deixar mais aceitável e cômodo para uma sociedade racista. Vários nomes da literatura brasileira tiveram sua pele embranquecida, como Machado de Assis, Maria Firmina dos Reis, Lima Barreto, Nilo Peçanha e tantos outros. Apagar a cor e origem de alguém é um crime grave, que simplesmente ignora toda a história de vida e tira o contexto da ligação entre o autor e as suas obras. Porém, o embranquecimento é apenas uns dos problemas dentro da cultura, temos também a representação desmedida: o Blackface.

A prática de pintar o rosto em tom de carvão e fazer caricatura para interpretar um personagem negro começou lá no século XIX. Popularizado nos Estados Unidos, o blackface foi se espalhando ao redor do mundo e acontece até nos dias atuais. No Brasil, um dos primeiros casos dessa técnica ocorreu na novela “A Cabana do Pai Tomás”, de 1969. Baseado no romance norte-americano “Uncle Tom’s Cabin”, de 1852, escrito por Harriet Beecher Stowe, a trama trazia uma história sobre o período da escravidão nos Estados Unidos. Na novela o ator branco Sérgio Cardoso foi escalado para dar vida ao escravo Tomás. A sua caracterização contava com a pintura do rosto e do corpo em tinta preta, perucas e até mesmo o uso de rolhas para colocar no nariz, o deixando com o famoso “nariz de batata”.

Olhando para trás a situação parece inacreditável, mas os exemplos não precisam ser de uma época tão distante, pois em um dos capítulos da novela “Êta Mundo Bom!” da TV Globo, exibida no ano de 2016 e reprisada atualmente, o ator Marco Nanini, intérprete do Professor Pancrácio, um intelectual falido que pede esmola na rua, acaba se transfigurando em “negro” para continuar mendigando sem ser reconhecido. A novela é relativamente recente e continua cometendo erros grotescos como este. Outra situação parecida aconteceu no programa “Zorra Total” com a personagem Adelaide, interpretada pelo ator branco Rodrigo Sant’anna. Além da caracterização, toda a construção da personagem remete aos estereótipos racistas.

Do apagamento histórico, também chamado de Whitewashing – prática que embranquece figuras negras, até o Blackface, a indústria que fornece cultura continua inviabilizando a história, o talento da população negra.

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