Salve, Carolina Maria de Jesus: protagonista negra da história brasileira
Por Paola Prandini, da AfroeducAÇÃO
Nesta semana, em que temos o Dia Internacional da Mulher (8 de março), é essencial celebrarmos a vida e a história de Carolina Maria de Jesus.
Carolina é uma das várias protagonistas negras brasileiras que fazem de suas histórias motivadoras de empoderamento para qualquer mulher brasileira.
De empregada doméstica e catadora de materiais recicláveis, se tornou a escritora mais aclamada da década de 1960 e, atualmente, nos inspira a “carolinear” e a comemorar 101 anos de seu nascimento.
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento (MG) e chegou na cidade de São Paulo, em 1947, caminhando a pé, para tentar ‘melhorar de vida’. Negra, semianalfabeta e favelada, a despeito de todas as dificuldades, Carolina criou sozinha três filhos e sua vida e obra, apesar da passagem do tempo, continuam atuais e estabelecem um diálogo contemporâneo com temas como pobreza, sexismo, sustentabilidade e negritude.
Seu livro mais conhecido é Quarto de despejo – Diário de uma Favelada (que, no ano de seu lançamento, alcançou a marca de mais de 100 mil exemplares vendidos). Sabe-se que esta publicação já foi traduzida para mais de 15 idiomas e, inclusive, suas obras são muito mais lidas em países estrangeiros.
Quando Quarto de Despejo veio a público, Carolina foi aclamada por a considerarem uma escritora negra de destaque no cenário literário brasileiro da época e que, pela primeira vez na história, fez da sua vida Literatura.
No entanto, é importante ressaltar que nem só de alegrias e sucesso sua vida foi preenchida após o lançamento de seu primeiro livro. Com o golpe militar de 1964 e a necessidade de apresentar um “Brasil do futuro”, Carolina foi sendo negada e esquecida, não obtendo o mesmo sucesso com os livros que publicou em seguida.
Para ter uma ideia, Diário de Bitita, que narra suas memórias da infância, foi publicado, primeiramente, na França, para depois chegar ao nosso país e já após a sua morte.
Contudo, felizmente, as pesquisas e as publicações de seus conteúdos – que vão além da Literatura, pois Carolina também atuou como compositora, cantora e dramaturga -, não se restringiram aos quatro livros que publicou em vida. Há muito material que foi e continua sendo publicado com o intuito de conhecermos mais de Carolina de Jesus, que podem ser encontrados, inclusive, via uma rápida busca pela internet.
Carolinas: uma homenagem por meio de fotos e histórias de vida
Como forma de homenageá-la, no final de 2014, a empresa social AfroeducAÇÃO (www.facebook.com/Afroeducacao) lançou, de forma totalmente independente, a publicação “Carolinas”, um livro que retrata mulheres negras, que atuam como catadoras de papel na cidade de São Paulo.
Como base para o livro, o fotógrafo, coautor da publicação, Diego Balbino, assina, desde 2011, uma exposição fotográfica com algumas das imagens do livro, que já esteve em espaços como o Memorial da América Latina e diversos centros culturais e educativos do país.
As imagens são resultado de suas incursões pelas ruas da capital paulistana e em visitas a cooperativas de reciclagem de lixo integradas por mulheres, como a Coopamare, localizada no bairro de Pinheiros, zona oeste da cidade. Acompanhando o ensaio fotográfico, o livro também traz histórias de vida das personagens retratadas, por meio dos quais podemos conhecer suas trajetórias. Trata-se de um marco importante para registrar a importância da existência dessas mulheres para a vida da cidade de São Paulo e garantir o reconhecimento e a credibilidade às práticas por elas exercidas, bem como homenagear a saudosa Carolina.
Fotos: Diego Balbino
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Paola Prandini é Mestra em Ciências da Comunicação (2013), com especialização em Gestão da Comunicação (2009) pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP) e Jornalista pela Faculdade Cásper Líbero (2007). É fundadora e diretora da consultoria AfroeducAÇÃO (www.afroeducacao.com.br) e integrante da Comissão dos Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-SP). Sócia-fundadora e, desde 2015, Diretora Cultural da Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação (ABPEducom), é também integrante do Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) da USP. Tem experiência nas áreas de Comunicação, Linguagens e Etnia, atuando principalmente nos seguintes eixos-temáticos: identidade negra e Educomunicação. Sua principal atuação é como formadora de projetos educomunicativos, atuando como formadora no Programa Nas Ondas do Rádio, vinculado à Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, desde 2010, e junto ao Núcleo de Educação para as Relações Étnico-Raciais da mesma Secretaria, desde 2014. Autora dos livros “Cruz e Sousa”, publicado pela Selo Negro Edições (2011) e “Carolinas”, em parceria com o fotógrafo Diego Balbino (2014), além de co-autora do livro “Eu sou Ilê” (2012) e co-tradutora do livro “Batidas, rimas e vida escolar: Pedagogia Hip-Hop e as políticas de identidade”, publicado pela Editora Vozes (2014).