Documentário sobre genocídio da população negra é exibido no Festival de Gramado
“Por alguns momentos a gente deixou o festival de cinema de gramado muito mais preto”, afirmou a diretora do longa metragem Camila de Moraes.
A exibição do documentário “O Caso do Homem Errado” da diretora gaúcha Camila de Moraes levou a reflexão sobre o genocídio da população negra a um dos mais importantes festivais de cinema da América Latina, o festival de Cinema de Gramado.
Realizado na Serra Gaúcha, o festival está completando 45 anos e reuniu 125 produções nacionais. O Caso do Homem Errado foi exibido no dia 21/08 na cidade de Gramado. O Documentário relata a história do operário Julio Cesar de Melo Pinto que foi confundido como assaltante e morto em situação não esclarecida enquanto estava sob o domínio da polícia.
O assassinato ocorreu nos anos 80 na cidade de Porto Alegre e ficou nacionalmente conhecido como o caso do homem errado. Os policiais só foram investigados porque um fotógrafo do Jorna “Zero Hora” fotografou Julio Cesar vivo e consciente na viatura policial meia hora antes dele ser entregue morto no hospital da cidade.
“É um filme que fala sobre o genocídio da população jovem negra. Porém não é um filme para a população negra, é um filme para a sociedade, pois nós precisamos assumir que o Brasil é racista pra tentar buscar soluções para este problema que não é só dos negros, mas sim de toda a comunidade”, afirmou a diretora Camila de Moraes.
O genocídio da população negra é apontado por diferentes indicadores. Segundo dados do Atlas da Violência lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 2016, as chances de um jovem negro de 21 anos morrer assassinado no Brasil são 147% maiores do que as de um jovem não negro.
As mortes ocorridas em supostos confrontos com a polícia, como foi o caso de Julio Cesar, são arquivados sem investigação em 99% dos casos. No Estado de São Paulo, 61% das vítimas dos chamados atos de resistência são jovens negros de 15 a 29 anos, casos em que o policial afirma ter sido obrigado a matar por legítima defesa.
A equipe de filmagem fretou um ônibus para acompanhar a diretora na primeira exibição do filme. Ao final do filme, Camila de Moraes falou sobre a importância de trazer a questão racial para ser refletida num ambiente majoritariamente branco: “Por alguns momentos a gente deixou o festival de cinema de gramado muito mais preto. A imprensa tradicional pode não noticiar isto, mas a gente não fica invisível, a gente anda produzindo coisas muito boas, vidas negras importam e por isso fazemos tudo isso”, finalizou a diretora.
Cris Guterres é mulher negra, leonina, sonhadora e mochileira. Jornalista e entrevistadora do TNM nas horas vagas.