Ele partiu. Sebastião Rodrigues Maia, o Tim Maia, nunca mais voltou. São dezenove anos sentindo saudades de quem não queria dinheiro, só queria amar e, com certeza amou. Não só amou. Deixou sua voz para que outros se amassem através dela. Deixou o sossego do azul que pinta o céu, o mesmo azul que pinta o mar e o sonho do poeta.
Era primavera quando nasceu. Quando se foi, era verão. Caçula de doze irmãos, que entregava marmitas na infância, aprendeu também a se entregar. Doou sua música a quem tanto gostou de sua voz. Tim, na verdade era tom. Tom de sensibilidade e intensidade entregues numa só composição.
Cantou no coral da igreja quando pequeno. Em 1959, criou ‘The Sputniks’, ao lado de Roberto Carlos e outras grandes vozes. Queria fazer voar toda aquela liberdade. Tentou a sorte nos Estados Unidos, onde abrigou em si a efervescência do jazz e de toda música negra. Lá, Sebastião era chamado ‘Jim’, afinal Tião, seu apelido de infância, na língua gringa é difícil pronunciar.
Integrou uma banda de Twist e, mais tarde, se juntou ao ‘Ideals’, como responsável pela harmonia e pela guitarra. Rebelde ou necessitado – não só de notas musicais -, pulava catraca e furtava comida. Em 1963, foi colocado atrás das grades. Por roubo e porte de droga, Jim era Tim novamente: após seis meses na prisão, foi enviado de volta ao Brasil.
Na viagem, o artista transportou na bagagem toda composição negra. Aqui, embalou música negra norte-americana, samba, baião. Na década de 70, quando já se apresentava em programas de rádio e TV, Tim Maia gravou seu primeiro LP, com sucessos como “Azul da Cor do Mar”, “Coronel Antônio Bento”, “Primavera” e “Eu Amo Você”. Apenas um ano depois, outro lançamento de sucesso.
Jim ou Tim, o descobridor dos sete mares, não admitia falhas no som. Reclamava. Foi um dos primeiros a lançar um selo que se tornou gravadora. De espírito livre, tal qual o de um exu, tinha saúde debilitada por álcool e drogas. Dias após passar mal numa apresentação, ele partiu. Partiu. E nunca mais voltou.