Se o Oscar deste ano foi duramente criticado por não ter negros indicados em nenhuma categoria, o prêmio Tony, espécie de Oscar da Broadway, abarcou a diversidade étnica em sua 70ª edição e deu exemplo para outros prêmios mundo afora, inclusive para os prêmios teatrais do Brasil, que raramente premiam artistas negros.
Depois de 12 artistas negros indicados, o Tony premiou quatro deles nas quatro principais categorias de atuação na cerimônia realizada na noite deste domingo (12), em Nova York. Um feito histórico.
Cynthia Erivo foi a melhor atriz por “A Cor Púrpura”. Já os outros três venceram por suas performances no musical “Hamilton”, o grande vitorioso da noite com 11 estatuetas: Leslie Odom, o melhor ator, Daveed Diggs, melhor ator coadjuvante, e Renee Elise Goldsberry, a melhor atriz coadjuvante.
A comunidade negra norte-americana comemorou o feito. Esperemos que ele reverbere mundo afora, inclusive aqui no Brasil, onde muitos diretores e produtores teatrais só lembram de artistas negros para fazerem papéis estereotipados.
Que a iniciativa do Tony abra a cabeça de quem comanda o teatro, para que haja mais espaço a atores negros e de outras etnias nos espetáculos e em papéis variados. E que isso se reflita nos júris no intuito de abarcarem maior diversidade étnica em suas premiações.
Protestos no Brasil
Recentemente, o teatro brasileiro tem sido palco de constantes protestos de artistas negros em prol de uma maior representatividade nos palcos e pelo fim de estereótipos racistas, como atores negros lembrados apenas para papéis de escravo, empregado ou bandido, não só no teatro como também na televisão e no cinema.
O último FIT-BH (Festival Internacional de Teatro, Palco & Rua de Belo Horizonte), realizado no mês passado, foi duramente criticado por não ter uma única peça com temática negra entre suas 70 atrações.
Em São Paulo, neste ano, artistas negros se manifestaram durante a MITsp (Mostra Internacional de Teatro de São Paulo), lembrando que o preconceito habita também no teatro, onde os negros são minoria não só no palco como também nas plateias, como evidenciaram na ação “Em Legítima Defesa”.
Em 2015, a peça “A Mulher do Trem”, do grupo Os Fofos Encenam, que seria apresentada no Itaú Cultural, foi cancelada após a comunidade negra acusar a obra de ser racista, por utilizar a técnica do “blackface” (quando um branco pinta o rosto de negro) na personagem de uma empregada doméstica. Na época o diretor da obra, Fernando Neves, pediu desculpas à comunidade negra em um encontro que debateu o racismo no mesmo palco onde a peça seria apresentada. No mesmo ano, uma peça carioca sobre Madame Satã também foi acusada de racismo por usar o “blackface” em seu cartaz.
Diante deste cenário, muitos artistas negros se unem em grupos que tratam de sua temática, como é o caso do Coletivo Negro, da Cia. Os Crespos, o Grupo Clariô de Teatro, em São Paulo, e do Espaço Preto, em Belo Horizonte, além do histórico Bando de Teatro Olodum, em Salvador. Assim, eles podem representar os papéis que desejam, além de utilizar o palco para discutir o racismo cotidiano que sofrem no Brasil.