Depois de alisar o cabelo por 20 anos, eu deixei a química há 06 anos. Um processo que me renovou a consciência, e que me fez realmente perceber o que é ser uma mulher negra.
O amadurecimento em relação à negritude vem por diversas formas. O cabelo é apenas uma delas. Mas vamos deixar bem claro uma questão: o empoderamento não depende só do cabelo. Uma pessoa de cabelo alisado pode sim, ter consciência da sua negritude. O problema não é o cabelo ser liso ou crespo. O problema é o motivo que te levou a alisar. O padrão europeu reforça o padrão do liso como perfeito há séculos, é um fator usado pra tentativa de embraquecimento. Se você alisa o cabelo pra se sentir melhor, porque acha que só assim vai ter namorado, porque sem isso não vai conseguir trabalho ou porque se sente menor que o outro, precisamos parar pra conversar. O problema não é o cabelo, alisar não muda o fato de você ser negro. Independente disso se você não puder decidir o que fazer com o cabelo, que nasce na sua cabeça, você vai resolver o que na sua vida?
Quando você decide usar o cabelo natural em 90% dos casos, você passa por mais problemas. Você sai do que as pessoas acham que é aceitável. Recebe críticas de tudo que é lado, inclusive dentro de casa. Quantas mulheres já me relataram que tiveram inclusive problemas com o companheiro em função de deixar o alisamento? Eu, inclusive, sou criticada pela minha mãe até hoje.
A vivência dessa experiência faz com que você perceba muita coisa que você viveu a vida inteira e não percebeu como racismo. Sim, ele está em toda parte. Mas quando se trata de cabelo, acompanha o negro desde a infância, na escola. Na adolescência a menina negra já não namora, imagina se tiver “aquele cabelo”. E a história é longa…
Quando a gente diz que usar o cabelo natural também é um ato político me desculpe quem não concorda, mas é. Ir contra o que foi estabelecido como padrão é político, sim. E tem consequências na vida prática. Não é romantizando as dificuldades que a gente fortalece as pessoas, mas se colocando ao
ado delas pra possam saber que não estão sozinhas e para que tenham força pra vencer as adversidades.
Agora o outro lado da história…
Você está usando o cabelo natural, passou por várias barreiras. E agora? Você está livre de ir ao salão alisar a raiz de 03 em 03 meses. Aprende a conhecer o próprio cabelo. O maior fruto que vejo nisso, é que você se ame como é. Mas nem tudo são flores. Estou navegando no web e encontro isso:
Quando a gente fala de cabelo, o objetivo é inspirar o sentimento de valorização da autoestima para que todos se AMEM. Não existe cabelo feio ou errado. A natureza não erra amor. Claro que quem fez essa montagem não tem maturidade pra falar de cabelo, não discuto nem taco pedra. A gente não fortalece ninguém recriminando. Onde falta luz, a gente tenta acender pelo menos uma vela.
Mas, pra quem está na fase de transição (período em que a pessoa para de alisar o cabelo mas ainda tem química no fio) e dá de cara com uma imagem dessas tem vontade de largar tudo. E não é pra ter cacho perfeito que a gente larga a química. Cada um é perfeito como é. E pronto!
Seja feliz do seu jeito. Com cabelo natural ou alisado, com cabelo com tinta ou sem, ou mesmo sem cabelo pra quem não quer ou quem não pode ter. A beleza não está nisso. A beleza vem da alma é ela que faz com que seu olhos brilhem. O cabelo é uma parte importante do contexto, mas é só isso. Você tem liberdade de escolha.
Seja feliz no caminho que escolher!!
Eliane Serafim é mulher negra, terapeuta capilar (Cabelo e Bem Estar), empreendedora social e criadora do Encrespa Geral, criadora e administradora da comunidade e grupo Amigas Cacheadas no Facebook.